quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Encostas socalcos

foto de: A&M ART and Photos

O arvoredo das encostas socalcos que iluminam as mãos de pérola adormecida teu olhar,
não existem,
não brincam como brincávamos junto ao cais de embarque,
havia entre nós uma rede supérflua de mendicidade que nunca acreditados deixar de existir,
sofríamos,
dançávamos sobre os telhados lânguidos das esplanadas com tosse,
e ouvíamos os silêncios da solidão palmilharem os andaimes do desassossego,
íamos vivendo como morcegos prisioneiros de uma noite inventada por uma locomotiva enlouquecida,
e triste,
e triste como toda a noite o é,
e triste como todos os livros em palavras embriagadas...
o arvoredo das encostas socalcos que iluminam os dissecados objectos de porcelana,

O alicate da saudade poisado sobre a almofada do cansaço,
o medo de perder as imagens das fotografias embalsamadas,
e triste...
triste não existir no olhar da madrugada,
e triste...
triste pertencer aos laminados lábios do desejo,
como vampiros beijos subindo as encostas socalcos,
os malvados suspiros da paixão,
a dor transformada em iluminação pública,
doirada como os teus abraços quando acordam as sílabas envenenadas...
e a toda a velocidade, e como todos os jardins suspensos da Babilónia...
tu, tu pertences-me como me pertencem os teus doces cabelos de maré ensonada.


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 6 de Janeiro de 2014

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Pincelado amarelo dos beijos em cacimbo adormecer

foto de A&M ART and Photos

Sorrisos do pincelado amarelo na tela da insónia,
pequenas poucas palavras sobrevivem nos teus lábios de sanzala perdida na noite,
ouves as vozes do deambulante cacimbo caminhar sobre os charcos invisíveis da madrugada,
e sorrisos do pincelado amarelo, sobressaem dos granitos verdes em jardins de papel, sorrisos, amarelo pincelado na tela da saudade, mergulhados... encarcerados todos, todos os homens de gabardina cinzenta...
nas cavernas das tempestades nocturnas dos comboios em movimento,

Sei que sou perdidamente um filho do circo,
um trapezista, um mísero malabarista... um feliz palhaço com dentes em marfim,
um velho crocodilo de mpingo apaixonado pela terra encarnada das manhãs tuas mãos...

Sorrisos que eu não esperava,
que eu... nunca acreditei existirem,
nuvens de porcelana,
janelas sem persiana... portas com vidro duplo e de gonzos embriagados,
sorrisos, tantos sorrisos de pincelado amarelo...
sorrisos cansados da vida construída sobre as árvores de cetim.


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 5 de Janeiro de 2014

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Finos tapetes de solidão

foto de: A&M ART and Photos

Sentes o vento nos finos tapetes de solidão, e cansas-te, e murmuras...,
e murmuras os ínfimos castigos da cidade em construção,
tens medo dos holofotes que a madrugada desenha na tua vidraça, choras?
das gravuras que deixaram no teu olhar sinto a voz do silêncio,
observo as árvores que balançam, e quebram...
choras?
sentes o vento nas acácias manhãs de Inverno,
tempestuosas,
tormentosas...
como as mentiras dos carrinhos de choque na feira da alegria,
há sempre uma palavra no teu sorriso,
há sempre um sorriso meu... nas palavras tuas,

Sentes, choras, sentes os orifícios das conchas perdidas,
ouves o mar, e sabes que dentro dele eu, eu... eu brinco nas invisíveis ondas de espuma,
desço às profundas mágoas que a tempestade transporta,
há uma porta de entrada vazia, chorosa... ranhosa..., uma porta com dentes de carvão,
sentes e choras, e brincamos como crianças nas tristes ardósias junto ao rio,
há socalcos dentro de socalcos,
há ruas perdidas dentro da tua algibeira...
sentes o vento nos finos tapetes de solidão, e sabes, e sabes que hoje tive uma bandeira na minha mão,
cresceu uma flor no meu cabelo,
e diz-me o espelho nocturno dos milagres incompreendidos que... que amanhã...
que amanhã não choras, que amanhã não sentes,
que amanhã melhoras.


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 4 de Janeiro de 2014