sábado, 28 de dezembro de 2013

jacarés de mpingo

foto de: A&M ART and Photos

o que faço sem perceber que a teia de aranha do teu olhar é falsa
como são falsas todas as palavras que me escreveste,
esperei-te acreditando nos jacarés de mpingo com dentes em marfim,
acreditei,
chorei,
dormi solenemente no teu jardim...
e esperei,
esperei... esperei e quando acordei,
o que faço sem perceber,
que,
a teia
de
aranha...
do teu olhar,
é,
é falsa...


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 28 de Dezembro de 2013

Janelas da solidão

foto de: A&M ART and Photos

São as tuas mãos frias e doces que alimentam o meu olhar
são as tuas mãos a lareira do desejo
o sincelo amigo nas manhãs nubladas
são elas a chuva prometida
que a tua pele doirada absorve
como caramelo derretido numa panela de pressão angustiada
as vãs noites resfriadas enquanto espero por elas...
… as tuas mãos que poisam no rosto do sem-abrigo
e aquecem o mendigo
são as tuas mãos frias...
e doces...
e singelas sesmarias que alimentam o meu olhar
São as tuas mãos frias
aquelas que o papel engole quando às palavras vem a tristeza
o barco recusa-se a navegar no teu corpo
e o mar
e a madrugada lívida dos pássaros marinheiros
voam sobre a cidade dos homens abandonados
e se não fossem as tuas mãos
aquelas... as tais... que dizem ser frias...
e se não fossem elas?
nós?
Imaginas a nossa vida...
vivermos sem saber o que são as tuas mãos frias
E doces que alimentam o meu olhar
o mundo seria quadrado
a lua talvez fosse filha de um triângulos isósceles
pobre como eu
tão pobre que nem se consegue ver no céu...
se não fossem as tuas doces e tristes mãos
o que seria da raiz quadrada e do cosseno de trinta grados?
e tu miúda
bela e tão bela
preocupada com um borbulha... coisa insignificante
porque são as tuas mãos
as tais... as doces e frias... as janelas da solidão.


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 28 de Dezembro de 2013

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

os insectos da melancolia

foto de: A&M ART and Photos

perdi-a sem saber que a tinha
dentro da minha mão despedaçada
enrolada nos meus finos dedos de arame farpado
perdi-a sem o saber
dentro das minhas veias habitavam os insectos da melancolia
três horas antes de adormecer
três vezes ao dia
a insónia invade-me entranhando-se nos meus olhos desnorteados
vagabundos
apaixonados...
e eu sem o perceber entro nas tempestades com sorrisos de mar
perdi-a e nunca mais a conseguirei encontrar no jardim do esquecimento

subi escadas
sentei-me em inúmeras varandas...
desci escadas
corri calçadas
tropecei... e caí sobre as lágrimas
perdi-a sem saber que a tinha
dentro da minha mão despedaçada
e uma sombra de mimo jaz na almofada do sonho morto

perdi-a
sem o saber
perdi-a de mim quando escrevia
palavras sem rosto
palavras
sílabas de nada
tristes madrugadas
perdi-a sem saber que a tinha
dentro
fora
na dupla esquina
de luz... como a luz dos holofotes dilacerados.


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 27 de Dezembro de 2013