quarta-feira, 19 de junho de 2013

Senhor invisível

foto: A&M ART and Photos

Me beije senhor invisível
me acaricia com suas mãos de luxo revestidas em veludo
me poise sua pele sobre a minha pele
me aleije
senhor de papel,

Me acorrente ao sabor da boca em silêncio
me deite em si
o meu corpo deleite com sabor a amanhecer
me aleije
me abrace meu senhor das madrugadas difíceis,

Me beije senhor das esplanadas
faça de mim uma árvore com ramos e flores
com pássaros e vampiros desesperados pelo sangue suor das coxas minhas...
me aprisione
senhor meu senhor invisível...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 18 de junho de 2013

Borboletas com bolinhas prateadas

foto: A&M ART and Photos

Conheci uma borboleta com bolinhas prateadas nas asas maleáveis de porcelana embriagada manhã, um dia, e quando já me tinha habituado à sua presença no parapeito da janela da biblioteca, percebi pela sua ausência sem qualquer explicação, que algo de muito grave tinha acontecido,
Um terramoto derrubando todas as árvores do meu jardim invisível? Ou.. também pensei na fraca probabilidade de ela ter morrido, pois diz o povo, que as más notícias são sempre as primeiras a saberem-se, entenda-se agora por más, má pessoa? Má vida? Má, ela? Nunca me apercebi de tal facto, sempre afável, meiga, terna, que às vezes até parecia que tinha chegado de um favo de mel,
E não era para mais, nos lábios de prata sempre a suspensa lágrima de açúcar, derradeira melodia dos primeiros sons do amanhecer, batia-me à janela, eu, quando a ouvia, porque muitas das vezes dormia tão profundamente que nem me dava conta que o edifício contiguo tinha desabado durante a noite, e todos os meus vizinhos desalojados, cerca de vinte famílias, tinham sido acolhidos na pensão da rua das traseiras, má, porque frequenta-se por homens de fraco calibre, mulheres petroleiro que quando se aportavam num cais com fundações suficientemente alicerçadas aos rochedos bem lá no fundo, nunca mais o abandonavam, chupavam-lhes tudo, inclusive as algibeiras,
Um terramoto?
As urtigas dormiam debaixo dos meus velhos lençóis
(canso-me deste vibrador sobre a minha secretária, canso-me, e provavelmente brevemente desligar-se-á, ou... também pensei na fraca probabilidade de ela ter morrido, mas felizmente que está vivo, de boa saúde e a atrofiar-me a cabeça; claro que me refiro ao meu telemóvel... Que pensavam vocês, seus malandrecos?)
E quando por lapso me encostava a elas, sentia-as na minha pele fina e sedosa, aleatórias madrugadas ausentada de ti, recordava os teus lábios com lágrimas de açúcar, recordava as estranhas janelas que sempre prontas me abrias, eu entrava-te e tu depois, olhavas-me, sorrias-me... e dizias-me na tua voz maliciosa e poética
Amo-me minha querida,
Às palavras, todas as caixas perdidamente empilhadas sobre os telhados zincados dos veludos musseques esquecidos nos pequenos charcos que a chuva depois de partir deixava sobre a terra agreste, seca, recheada de fendas como a pela das mesmas mulheres, as de má... que frequentavam a pensão das traseiras, tocava-te nas pernas, poisava-me lá, e tu, indiferente, indecisa
Não sei se quero,
E tu desentendida
Não percebi filho,
E tu
Perdida no silêncio... dizias-me que as fotografias são esqueletos de papel prensados, e tal como as tostas-mistas, de preferência, comem-se quentes, porque são saborosas, porque tu inventavas borboletas como quem inventa palavras, e que eu saiba
Mas tu não sabes nada,
Não existem borboletas com bolinhas prateadas nas asas maleáveis de porcelana embriagada manhã, não existem janelas com parapeito em granito, e nem sequer tu dormias em casa quando o edifício contíguo ruiu e desalojou os meus, repito, os meus vizinhos, porque nem isso tu conseguiste... viver comigo, e transformares-te em urtigas. Patife.

(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
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segunda-feira, 17 de junho de 2013

Em fatias poéticas, dentro de dois pedaços de papel

foto: A&M ART and Photos

Gosto da tua amizade, precisamente, pela tua franqueza e sobretudo optimismo, claro que é bom regressar a Lisboa, e treinar a caligrafia para prováveis autógrafos, ainda melhor,
Enquanto lia o teu coração, lembrei-me de um Livro de José Luís Peixoto “Dentro do Segredo”, sobre a viagem que ele fez à Coreia do Norte, autógrafos, fazem-me lembrar os Norte-Coreanos, e claro, todos eles são muito baixinhos, agora, imagina tu, que eu imaginei, que enquanto autografava um livro, aparecia-me uma Norte-Coreana, puxa a t-shirt e diz-me
Quero um autógrafo no meu seio esquerdo,
Boa, penso eu, e agora? E Agora Francisco?
Pego na caneta, e tremulamente, escrevo... Francisco Luís Fontinha, com amizade, e claro, ela sorriu, e foi-se embora…
E nunca mais utilizarei a minha caneta de tinta permanente, apenas um corpo poético consegue sobreviver às palavras, apenas este corpo consegue embrulhar-se entre a poesia e o sonho, ou entre a noite e a madrugada..., às vezes, entranha-se no prazer, e voa, voa como uma gaivota desgovernada
E agora, Francisco? E agora? Que faço com este corpo poético, literário e desejável? Transformar-se-á em palavras, no verdadeiro poema? Ficará corpo de mulher com formato de livro, terá mãos para me acariciar o rosto desgrenhado pelos socalcos do Douro? Terá olhos, pálpebras e lábios para me beijar? E agora... Francisco...
Gosto, do autógrafo semeado na areia molhada da feliz gaivota desgovernada, gosto da tua pele misturada em melódicos sons embainhados dentro da manhã, ela dança, e mexe-se com a ligeireza de uma andorinha em pequenos círculos, perguntas-me
Qual é o perímetro de um círculo, sei, mas simplesmente não me apetece responder-te, perguntar-te-ia, para que desejas saber o perímetro de um velho círculo, imobilizado pelo gesso do hospital, alguns dos ossos não sobreviveram às rotações em redor de uma eira granítica, e no seu centro de massa, o canastro, o milho, o teu
Corpo?
Em fatias poéticas, dentro de dois pedaços de papel, açúcar sobre a pele complexa dos cansaços à beira rio, e em dolorosos soníferos entram e saem barcos de ti, imaginava-te um socalco esculpida na montanha com acesso ao rio Douro, imaginava-te a tal Norte-Coreana,
Quero um autógrafo no meu seio esquerdo,
Boa, penso eu, e agora? E Agora Francisco?
Pego na caneta, e tremulamente, escrevo... Francisco Luís Fontinha, com amizade, e claro, ela sorriu, e foi-se embora…
E
E ainda...
Corpo?
E ainda hoje não entendo muito bem as t-shirts que enrolam corpos poéticos, literários e afins...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha