sexta-feira, 14 de junho de 2013

Poemas em flor

foto: A&M ART and Photos

No cinzento mergulho som da tua voz
há poemas em flor
como madrugadas suspensas de mãos em odor
o silêncio amargo da boca em teus anseios
há pontes imaginárias
há medos inultrapassáveis
como travessias sobre os rios da saudade
de estruturas cansadas e distantes marés em sofrimento,

Há dias parvos e tristes e outros são-no como dentaduras em marfim
procurando os esqueletos de veludo
sobre a poeira do amanhecer
há dias como hoje sentido-os no caos fluido até atingir o mar
como um relógio sem pulso
pertencente a um pedaço de braço derramado no xisto falso da manhã...
há seios de arrependimento poemas às palavras derretidas nas formas do silêncio
subindo e descendo paredes de Inverno até regressar a Primavera do teu olhar agreste,

Há fome na tua boca como silvestre framboesa com imagens de infância
uma escola perde-se na penumbra montanha com janelas de vista para o inferno
vestem-se eles com toalhas de linho
e pequenos papeis coloridos
há música no teu coração de granito
quando desço sobre ti perguntando-me onde moram as estátuas de milho
aprisionadas no canastro da aldeia
há... no cinzento mergulho som da tua voz... há, há poemas em flor...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha


quinta-feira, 13 de junho de 2013

Claro que isto é poluição dizia-me ela

foto: A&M ART and Photos

Também como eu, ele perdido nas aranhas nauseabundas das flores campestres que alguém resolveu trazer do interior mais longínquo à aldeia deixada ficar adormecida na montanhas dos cabelos castanhos, os olhos vestiam-se-lhe de púrpura como restos de comida transformados em vestidos de gala, nos lábios um leve sorriso a bâton em tom de encarnado, sobre as mandíbulas coxas um exuberante perfume de areia com sabor a hidratos de carbono, e quando lhe pedia para me emprestar o isqueiro, com voz de rinoceronte, dizia-me... há muitos a vender no café,
Claro que havia, também havia lâminas de vodka embalsamadas em colheres de sopa, sem sopa, como tinha a hora marcada para o temido xarope para a tosse, o médico que era dos cigarros, eu, não, para mim o problema estava na poluição que se fazia sentir à nossa volta, e bastava darmos as mãos, descer a calçada... e uma pasta negra começava a ser expelida através das narinas...
Claro que isto é poluição dizia-me ela,
E eu quando regressava às consultas queixa-me ao meritíssimo doutor que o meu problema era devido à poluição, e ele, olhava-me, olhava-me... e entre dentes
Tem juízo rapaz, e deixa os cigarros,
Trezentos corações de argila perdidos pela cidade dos sonhos, confesso, hoje, que nada me faz recordar os jardins dos teus olhos, aqueles que me olhavam à distância, e eu, dentro de um cavalo de ferro em direcção a um rio sem nome, ia-me perdendo, aos poucos caiam-me os dentes de leite, e quando assentei arrais sobre as laje verticais em pequenas folhas de alumínio, minúsculas, às vezes tremendo de frio quando na rua a temperatura rondava os quarenta graus centígrados, e curiosamente, vestia-me com o sobretudo castanho e sentava-me num banco do velho jardim à espera que regressassem os barcos vindos do outro lado da avenida, cansado, sentia-me perdido dentro de uma caixa de fósforos, e
E eu quando regressava às consultas queixa-me ao meritíssimo doutor que o meu problema era devido à poluição, e ele, olhava-me, olhava-me... e entre dentes
Tem juízo rapaz, e deixa os cigarros,
(olho-os)
E no meio do caos, sobre tijolos de argila, o amor surge como asas de uma gaivota regressada do distante Tejo, um homem e uma mulher, beijam-se enquanto um deles segura a Bandeira Turca, tamanha beleza é pouco, e é mais do que isso, é poesia, é loucura, é a paixão... e firmemente espera pela chegada do dia, da liberdade, e não há prisão que acorrente a paixão e o amor,
Porque os sonhos dos trezentos corações de argila, saltitam sobre as árvores em redor da Praça Taksim, e o prazer estremece os amedrontados, e excita os velozes homens e mulheres, destemidamente livres como os pássaros de Favarrel – Carvalhais – S. Pedro do Sul, e
(olho-os)
“Também como eu, ele perdido nas aranhas nauseabundas das flores campestres que alguém resolveu trazer do interior mais longínquo à aldeia deixada ficar adormecida na montanhas dos cabelos castanhos, os olhos vestiam-se-lhe de púrpura como restos de comida transformados em vestidos de gala, nos lábios um leve sorriso a bâton em tom de encarnado, sobre as mandíbulas coxas um exuberante perfume de areia com sabor a hidratos de carbono”..., e descobri o verdadeiro amor que vive na cidade dos rios de prata...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha