terça-feira, 31 de outubro de 2023

Pigmento de cor

 Morres-me enquanto poisa o silêncio

Sobre a caruma do meu corpo

Também ele

Em morte insónia

Morres-me a cada minuto

A cada segundo

Milésimo… de segundo do segundo

Que me morres

Morres-me enquanto cada pigmento de cor

Cai sobre esta folha de papel

E pergunto-me o que me interessa esta a folha de papel

Com pigmentos de cor

Se tu me morres

Se tu me habitas

Também eu

Em morte silenciosa

Morres-me enquanto o Outono caminha em direcção ao Inverno

Que traz o frio

Que traz o Inferno

De que me morres

Antes de acordar o luar

Antes de adormecer a chuva

No teu olhar

De que me morres com falta de ar.

segunda-feira, 30 de outubro de 2023

Lado negro

 No lado negro da lua

Onde todas as noites me vou esconder

Onde escondo este poema

E ele amua,

No lado negro da lua

Onde passo as noites a escrever…

Na companhia desta lareira em chama,

Na companhia do meu sofrer.

 

No lado negro da lua

Onde me vou sentar

Neste pedaço de pedra cinzenta,

De onde vejo o mar…

E um sorriso pela manhã que me alimenta…

No lado negro da lua…

Onde tenho todo o meu sonhar.

 

 

30/10/2023

Mussulo

 Ofereço-te esta flor

Que aos poucos acorda neste poema

Ofereço-te esta flor

Sabendo que na planície acorda o cacimbo

E o cheiro do capim

Poisa na minha mão.

 

Brinco contigo

Pequenino charco de lama e saudade…

Que às vezes salta para cima do zincado telhado do musseque…

Aos poucos me afasto

Aos poucos escondo esta flor

Para te a oferecer,

Quando acordar a manhã,

E depois de um beijo no teu ombro,

Poiso-a docemente nos teus lábios.

 

Oferece-to esta flor

Logo que termine o poema

Como se os meus poemas tenham um fim,

Começo, e morte.

Como se os meus poemas

Fossem um pedacinho de terra fértil

Em pequenos sorrisos depois das chuvas.

Ofereço-te esta flor

Que aos poucos acorda neste poema

Ofereço-te esta flor

Sabendo que na planície acorda o cacimbo

E o cheiro do capim

Poisa na minha mão…

E ao longe, aceno ao Mussulo.

 

 

30/10/2023

domingo, 29 de outubro de 2023

Fim-de-semana

 São simples, os nossos fins-de-semana,

São tão simples, meu amor…

Deixamo-nos ir ao som da lareira,

Os teus olhos, abraçam os meus olhos,

Os meus lábios, escrevem, os meus lábios escrevem nos teus lábios,

E do luar do teu sorriso,

Recebo o silêncio do meu desejo.

 

São simples, os nossos fins-de-semana,

Tão simples como os poemas que te escrevo…

E vou começar a deixá-los sobre a almofada,

Tão simples, são os nossos fins-de-semana,

Deixamo-nos ir ao som da lareira,

E só regressamos de madrugada,

E regressamos um só corpo; o meu corpo e o teu corpo são apenas um corpo.

 

Depois, muda a hora e a puta da noite vem mais cedo,

Não fosse isso, meu amor, não fosse isso e os nossos fins-de-semana eram tão simples…

E tão lindos,

Nos braços destas flores em pequenas lâminas de luz que da lareira brotam…

E são tão simples, meu amor, são tão simples.

 

Depois, mais logo, leio-te “Flor de Fumo” de Nadia Anjuman…

E aí sim, temos a perfeita simplicidade da vida,

De ser feliz,

De abraçar os teus lábios na madrugada,

E perceber que sou apenas uma palavra que fugiu de um qualquer poema…

De uma qualquer sebenta de um adolescente apaixonado…

 

São simples, os nossos fins-de-semana,

São tão simples, meu amor…

Deixamo-nos ir ao som da lareira,

E esquecemo-nos que estamos abraçados ao beijo.

 

 

29/10/2023

 


 


Poetiza

 Poetiza-me com os teus lábios nos meus lábios

Mulher do meu sonhar

Palavra que a manhã lança ao mar,

Poetiza-me com as tuas mãos

Acariciando o meu rosto poético,

Poetiza-me menina das madrugadas

Quando desenho o beijo no teu ombro

E perco-me no teu pescoço,

Como um menino mimado,

Como um menino de ti,

 

Poetiza-me com toda a tua força,

Com todo o teu saber,

Poetiza-me com as palavras que te escrevo,

Com as palavras que semeio no teu seio,

Poetiza-me com os teus lábios nos meus lábios,

Com a tua boca na minha boca,

 

Poetiza-me todos os dias,

A todas as horas,

Em todas as noites,

Quando te abraço,

Quando me perco em ti,

Quando me perco neste salgado mar de inocência,

Poetiza-me nesta canção de Outono,

Com folhas lapidadas,

Das árvores,

E dos pássaros…

 

Poetiza-me com os teus lábios nos meus lábios

Mulher do meu sonhar

Palavra que a manhã lança ao mar,

Poetiza-me com as tuas mãos

Acariciando o meu rosto poético,

 

Poetiza-me com o teu cabelo poisado no meu peito,

Poetiza-me na insónia da noite,

Da insónia em desejo,

De pegar na tua mão…

E morrer,

Poetizado pelos teus lábios de mel.

 

 

 

29/10/2023