quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Esconderijo do silêncio

 Podíamo-nos esconder dentro deste cubo de silêncio

Que alimenta a noite

E que da noite,

Levanta voo dos teus olhos de mar.

 

Morres-me quando as gaivotas fogem do teu olhar

E constroem sobre o prado verdejante

As primeiras lágrimas que a manhã vomita.

Embriagado seja

O sono

Quando me morres

Depois das pequenas coisas

Despertarem pela madrugada.

 

Morres-me quando dentro deste cubo de silêncio

Que se abraça à noite

Zarpar deste porto sem nacionalidade

Destas mãos que se cansam de viver

Nesta vida de enganos,

O meu teu corpo moribundo,

 

Esperando a morte,

Às vezes,

Desejando a morte,

Quando se esconde nos teus lábios de mel.

 

Morres-me quando deixo sobre este papel

As madrugadas das estrelas de cartolina,

Morres-me quando me alicerço à manhã…

E procuro na manhã,

O que nunca vou encontrar;

Um pedaço de chocolate com sabor a saudade.

 

 

 

09/08/2023

Caixão

 



Pego neste caixão

Quatro pedaços de papel

(qualquer coisa serve, para acomodar os meus ossos)

Quatro tábuas

Em combustão

Pego neste caixão

E visto-me de Primavera

Quatro pedaços em cartão

Ao cair da noite

 

Abraço-me a este caixão

E percebo que os meus braços são ausências de silêncio

São pequenos quadrados de terra

Que cobrem o meu caixão

 

Pego neste caixão

Com a minha mão

Caneta invisível

Que a noite come

Que me come

Enquanto eu não dormir

Neste cansado caixão

 

 

 

Alijó

09/08/2023


 

(sem título)

 Um filho

É o primeiro Sol do teu dia

É a primeira Lua da tua noite,

Um filho

É o poema da tua vida

É poesia,

 

Um filho

É o mar do teu silêncio

É o silêncio da tua mão,

Quando lhe afagas o rosto,

Um filho

É a paixão,

O amor da tua vida.

 

 

09/08/2023

O beijo

 Porque morrem,

Meu amor

As flores do teu cabelo,

Porque dançam,

Meu amor

As abelhas que brincam no teu cabelo,

Porque morrem,

Meu amor

As flores e as abelhas e os rios

Do teu cabelo,

 

Porque morre,

Meu amor

O desejo dos teus lábios

Na tua boca,

Porque morre,

Meu amor

Nos teus lábios,

O meu beijo clandestino,

 

Porque morrem,

Meu amor

As estrelas dos teus olhos,

Quando os meus olhos…

São um diamante por lapidar,

 

Porque morre,

Meu amor

Nos teus olhos o mar

E o sonho do eu menino…

Também morre,

Quando em ti…

Acorda o luar.

 

 

09/08/2023

Partida

 Senta-te e pega na minha mão

Senta-te e escreve na minha mão

O poema da despedida,

Senta-te e abraça-me

Enquanto a tarde não acorda,

Enquanto a tarde é uma lápide sinalizando a partida

Do teu silenciado olhar.

 

Senta-te e pega na minha mão

Senta-te e desenha na minha mão

O luar.

Senta-te e pega na minha mão

E não tenhas medo da noite sem estrelas;

Porque eu sou a tua estrela.

 

Senta-te e pega na minha mão

Senta-te e abraça-me,

Enquanto o rio corre para o mar

E o mar,

E o mar é o cortinado do teu lindo olhar.

 

 

 

09/08/2023

terça-feira, 8 de agosto de 2023

Mulher

 

Árvore do seu viver

Árvore que dança na alvorada

Árvore que sofre para viver

Árvore que não desiste quando está cansada,

 

Árvore em destino luar

E das estrelas amanhecer

Árvore de lágrima no olhar

E das tempestades de sofrer,

 

Mulher árvore da árvore que não tomba

Quando o vento sopra de nortada

Quando o vento se veste de sombra,

 

E sem perceber que há um círculo de luz

Na sua mão amarrotada,

Da sua mão árvore na árvore que a noite seduz.

 

 

Francisco