Comeram-no
Comeram-no numa noite de Verão
Junto ao apeadeiro da
saudade,
Comeram-no…
Sem que ele tivesse dado
conta de tal facto…
Nem um ai, deu,
Finou-se,
Acreditando que o uivar dos
Lobos…
É sinal de chuva,
De carne fresca,
E mesmo assim, comeram-no,
Enquanto ele pensava…
Enquanto ele acreditava que
pensava…
Como permitiria ter sido
comido…,
Por um lobo em cio,
Enquanto dos ossos,
Acordavam as palavras peregrinas…
Que de joelhos…
Desenhava círculos de luz…
Com uma janelinha para o
rio.
Comeram-no
Da carne ao cio,
Quando um dia,
Em tom de brincadeira…
Atou uma corda ao pescoço…
E lançou-se da Torre Eiffel,
E ninguém deu por nada,
Os anos passaram,
E já ninguém se lembrava…
Nem do lobo,
Nem do corpo que o lobo
comeu,
E mesmo assim,
Comeram-no,
Comeram-no saciando a
fome vaginal
Na construção de um poema
vagabundo,
Um pouco triste, até,
E aquele homem que foi
comido,
Comido pelo lobo mau…
É hoje um grande homem,
Ne negócios,
E artes circenses…
Estou tão feliz, hoje,
Se tivesse aqui a Dona Arminda,
juro,
Juro que fumávamos um
charro…
E conversávamos,
Tantas saudades de conversar…
Sei lá, mãe,
Sei lá…
De que podíamos nós
conversar…
Olha, como está o tempo
por aí…?
Aqui está calor, mãe,
Aqui também, meu querido.
Comeram-no,
Talvez numa noite de
vendas a retalho,
Um subia a escada,
O outro, o outro
acreditava…
E mesmo assim comeram-no
Numa praia junto ao mar,
Numa praia sem nome.
08/07/2023
Francisco