sábado, 8 de julho de 2023

O lobo

 Comeram-no

Comeram-no numa noite de Verão

Junto ao apeadeiro da saudade,

Comeram-no…

Sem que ele tivesse dado conta de tal facto…

Nem um ai, deu,

Finou-se,

Acreditando que o uivar dos Lobos…

É sinal de chuva,

De carne fresca,

E mesmo assim, comeram-no,

Enquanto ele pensava…

Enquanto ele acreditava que pensava…

Como permitiria ter sido comido…,

Por um lobo em cio,

Enquanto dos ossos,

Acordavam as palavras peregrinas…

Que de joelhos…

Desenhava círculos de luz…

Com uma janelinha para o rio.

 

Comeram-no

Da carne ao cio,

Quando um dia,

Em tom de brincadeira…

Atou uma corda ao pescoço…

E lançou-se da Torre Eiffel,

 

E ninguém deu por nada,

Os anos passaram,

E já ninguém se lembrava…

Nem do lobo,

Nem do corpo que o lobo comeu,

 

E mesmo assim,

Comeram-no,

Comeram-no saciando a fome vaginal

Na construção de um poema vagabundo,

Um pouco triste, até,

E aquele homem que foi comido,

Comido pelo lobo mau…

É hoje um grande homem,

Ne negócios,

E artes circenses…

 

Estou tão feliz, hoje,

Se tivesse aqui a Dona Arminda, juro,

Juro que fumávamos um charro…

E conversávamos,

Tantas saudades de conversar…

Sei lá, mãe,

Sei lá…

De que podíamos nós conversar…

Olha, como está o tempo por aí…?

Aqui está calor, mãe,

Aqui também, meu querido.

 

Comeram-no,

Talvez numa noite de vendas a retalho,

Um subia a escada,

O outro, o outro acreditava…

E mesmo assim comeram-no

Numa praia junto ao mar,

Numa praia sem nome.

 

 

 

08/07/2023

Francisco

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