Levo as minhas palavras
Em rebanho,
Subo a montanha, subo-a
até ao cume,
Abro os meus braços de
invisível silêncio…
E voo-o até longe,
Pego naquele livro que
não se cansa de me olhar,
Aquele mesmo livro,
Olha… aquele…
O das palavras de dormir,
E lá dentro brincam as mãos
com que acaricio o teu rosto de mar,
Sou filho do silêncio,
Meu amor,
Preciso tanto do
silêncio,
Como preciso dos teus
lábios…
Como preciso da tua boca,
E se não estivéssemos em
Maio,
Sim, meu amor, Maio…
Mês de Maria, Maio de
mulher, Maio de mãe…
Se não estivéssemos em
Maio,
Eu estava louco,
Louco por ti,
Louco por todas as flores…
Louco dentro destas
palavras em loucura,
E, no entanto,
Meu amor,
Não estou louco…
Nunca estive louco.
Abraço-te enquanto a
noite se despede de mim…
E uma lágrima de sono
Anda de cama em cama,
E beijo-te calorosamente na
ausência da tua mão,
Sofri tanto, meu amor,
Sofri tanto com as ruas
de Setembro,
Quando ainda acreditava
nas acácias do meu pai…
As acácias do meu pai
morreram,
Mais tarde, morreu o meu
pai,
E eu, continuei a
acreditar nas acácias do meu pai,
Mas depois, ficou tudo
tão triste…
Procuro a tua mão perdida
no lençol da paixão,
Ó madrugada de sonhar…
Procuro-a, e não me canso
de a procurar,
Quando sei que a noite
começa a embriagar-se nos teus lábios,
(tenho medo de que a
noite roube os teus lábios, meu amor!)
Tenho tanto medo.
Todos os dias,
escrevo-te,
Escrevo-te dentro desta
ausência que o meu corpo sente…
Escrevo-te enquanto
percebo que há uma lágrima de mar
Na tua mão que procuro;
E mesmo assim…
Tenho medo de que me
roubem os teus lábios meu amor!
Tenho tanto medo…
E não me canso de a
procurar.
Procuro-a entre os
destroços das minhas palavras,
E sobre esta secretária,
a minha ausência travestida de insónia…
(Levo as minhas palavras
Em rebanho,
Subo a montanha, subo-a
até ao cume,
Abro os meus braços de
invisível silêncio…
E voo-o até longe)
E quando chegar ao longe…
A tua mão procurada
poisará no meu peito.
Alijó, 05/05/2023
Francisco Luís Fontinha