CUIDADO COM O POETA: ele
MORDE.
Aquele que te ladra
Aquele que se alicerça em
ti
Que te come
Que se delicia com a tua
língua
Aquele que escreve nos
teus braços
Nas tuas nádegas
Aquele que finge ser a
tua sombra
Que lê os teus livros
Que come a palha do teu
colchão
Aquele que voa
Aquele que tomba no chão
Aquele que mija
Que porcamente cospe no
chão.
Aquele filho da puta
Que te ameaça com
palavras
Que em vez de te atirar
com pedras…
Atira-te com a tabuleta que
brinca no portão
CUIDADO COM O POETA: ele
MORDE.
Aquele que te ladra
Aquele que finge ser o
teu fiel cão
Que deixou de ser cão
(DIZEM: dizem que agora é
um estorninho com asas de nylon)
Aquele que cospe
Que mija
No chão.
Aquele que quer ser como tu
Um (tu) diferente
Que em vez de ser CÃO
É… Cãozão
É boi de primeira
Alface de lábios
pincelados de vergonha
Aquele que morre
Aquele que inventa o cão
Na voz de cão
O cão que escreve
O cão que fala
Que ladra
Ladra
Ladra
Cão. Cabrão. Colhão. Chão.
Toca o telefone
É do trezentos e quatro
Terceiro direito
Uma janela virada para o
sol
Outra janela virada para
a morgue
Um cão.
Cão.
CUIDADO COM O POETA: ele
MORDE.
Aquele que te ladra
Aquele que se alicerça em
ti
Que te come
E enquanto o poeta não MORDE
E em cada filho da puta
Daquele que morde
Deixa de morder…
E
CUIDADO COM O POETA: ele
MORDE.
Alijó, 30/03/2023
Francisco