quinta-feira, 30 de março de 2023

O cãopoetacolhãdochãonochão

 CUIDADO COM O POETA: ele MORDE.

Aquele que te ladra

Aquele que se alicerça em ti

Que te come

Que se delicia com a tua língua

Aquele que escreve nos teus braços

Nas tuas nádegas

Aquele que finge ser a tua sombra

Que lê os teus livros

Que come a palha do teu colchão

Aquele que voa

Aquele que tomba no chão

Aquele que mija

Que porcamente cospe no chão.

 

Aquele filho da puta

Que te ameaça com palavras

Que em vez de te atirar com pedras…

Atira-te com a tabuleta que brinca no portão

CUIDADO COM O POETA: ele MORDE.

Aquele que te ladra

Aquele que finge ser o teu fiel cão

Que deixou de ser cão

(DIZEM: dizem que agora é um estorninho com asas de nylon)

Aquele que cospe

Que mija

No chão.

 

Aquele que quer ser como tu

Um (tu) diferente

Que em vez de ser CÃO

É… Cãozão

É boi de primeira

Alface de lábios pincelados de vergonha

Aquele que morre

Aquele que inventa o cão

Na voz de cão

O cão que escreve

O cão que fala

Que ladra

Ladra

Ladra

Cão. Cabrão. Colhão. Chão.

 

Toca o telefone

É do trezentos e quatro

Terceiro direito

Uma janela virada para o sol

Outra janela virada para a morgue

Um cão.

Cão.

CUIDADO COM O POETA: ele MORDE.

Aquele que te ladra

Aquele que se alicerça em ti

Que te come

E enquanto o poeta não MORDE

E em cada filho da puta

Daquele que morde

Deixa de morder…

E

 

CUIDADO COM O POETA: ele MORDE.

 

 

 

Alijó, 30/03/2023

Francisco

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