Desejo-te e abraço-me aos
teus doces lábios de mel, no teu peito, procuro a manhã que o silêncio da noite
deixou ficar nas amarras do destino, foges-me durante o sono, em pequenos
pesadelos que as estrelas beijam, nesta pobre cidade, com o rio nas suas mãos, onde
circula livremente a paixão.
Escrevo,
Cartas sem destinatário
na ânsia que dos teus doces lábios de mel acordem as palavras envenenadas, nas
palavras em desejo, quando o mar te abraça e ao meu ouvido regressa o sussurro ciciar
dos gemidos em luar.
Um grito, dentro de mim.
Olho-te e confundo-te com
a lua; há nesta pirâmide em desejo as primeiras lágrimas da madrugada, lágrimas
que aos poucos se vestem de sol, e a alegria grita no meu destino.
Desejo-te e abraço-me,
Canções que me cantavas e
eu trocava o sono por pensamentos, canções de menino, quando uma criança poisa
nas abelhas em flor, e tudo isto, numa simples carta, sem destino, remetente,
cidade ou País,
Tanto faz,
Um dia voarei na lâminas
cinzentas das sanzalas sombreadas pelo fogo do desejo, gemes, oiço-te na
penumbra noite dos musseques há muito assassinados por um papagaio em papel,
amarras entre ossos e pedaços de silêncio, quando a carta que escrevo, sem
destinatário, sem remetente, se abre ao acordar da noite.
A noite deixou de me
pertencer.
A noite pertence às
lágrimas de uma criança; tão triste, quando nos olhos de uma criança brincam
lágrimas em papel flor.
Tão triste, quando no
rosto de uma criança habitam lágrimas de fome, quando na peste das palavras, de
quase todas as palavras, uma criança tem no rosto as tristes manhãs de Inverno.
As viagens intermináveis
do espelho sonolento que a paixão constrói nos olhos do mar, e dos teus doces
lábios de mel, sinto o frio areal que os teus cabelos semeiam, semeiam em mim o
desejo de voar,
Neste fogo de suspiros
que se encostam aos umbrais da ferrugem tarde, vejo o meu barco em cartolina, em
pequenos círculos de sono, quando a noite nos leva, sobem até às nuvens
coloridas de um coração,
Um pequeno crepúsculo, que
se esconde nos teus olhos.
E os teus doces lábios de
mel deixaram de pertencer à noite; agora, são os meus doces lábios de mel.
Trago na mão o sol, trago
na mão a espada com que vou cortar a tristeza e a solidão, até que um dia, um
dia…
Dos teus doces lábios de
mel,
Uma criança,
Desenhe na terra o
sorriso da lua.
Pensava eu, enquanto
dormia abraçado aos teus doces lábios de mel.
Alijó, 24/01/2024
Francisco Luís Fontinha
(ficção)