Deram-me um nome
(Francisco)
E podiam ter-me apelidado
De flor
Sol
De Lua
Ou até de lanterna
Deram-me um nome
E o meu nome até poderia
ser de Luanda
Podia ser cacimbo ou
sanzala
Capim
Mutamba
Podia ser apelidado de
tudo
Mangueira ou papagaio em
papel
Triciclo
Ou menino dos calções
Baía de Luanda
Mussulo (adoraria ser
apelidado de Mussulo)
Podiam chamar-me de barco
De coqueiro
Deram-me um nome
Um nome
Um simples nome
E os meus pais até me
podiam registar de menino dos sonhos
Amigo do chapelhudo
Deram-me um nome
(Francisco)
E o (Francisco)
Nascido em Luanda
Num belo Domingo de sol
Às sete e trinta horas da
manhã
Num mês de Janeiro
(portanto sou aquariano,
gajo complicado, gajo dos sonhos)
E fui baptizado
E tanto azar tive
Que me baptizaram no dia
de Natal
Deram-me um nome
O meu nome
(Francisco)
Os meus pais podiam ter-me
apelidado
De machimbombo
Mas não
Tinham de me apelidar de
(Francisco)
Deram-me um nome
Mais fácil seria se me
dessem um número
Como no serviço militar
Ou como o número de
polícia das nossas habitações
Mas não
Tinha de ser (Francisco)
E de (Francisco)
Em (Francisco)
Vou andando
Umas vezes por aqui
Outras
Outras por aí
Até me podiam chamar de
Baleizão…
Mas de (Francisco)
Não
(Francisco) não.
Alijó, 23/11/2022
(Francisco)