quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Maré de sémen

 Deste meu pequeno cubículo de sono

Enquanto o meu relógio adormece

Nos lábios das manhãs em desespero

Na algibeira procuro os cacilheiros

Que se abraçavam ao meu peito

 

Frio e escuro

Quando a âncora da saudade

Se despedia de mim

E voava como voavam as gaivotas

Na terra de ninguém

 

Poisava as mãos nas pobres águas

Onde habitavam as flores e as árvores e todos os pássaros

E sabia que lá longe

Uma ponte metálica me transportava

Para os teus braços

 

Enquanto das lágrimas do silêncio

Um fio de espuma

Levitava no teu cabelo amargurado

E eu sabia que quando regressasse a noite

A maré de sémen em pequenos gracejos

 

Se escondia na sombra da madrugada

Quando vento das palavras

Adivinhava sempre

Quando aquele cacilheiro

Vinha ao meu peito

 

 

 

 

Alijó, 27/10/2022

Francisco Luís Fontinha

 Nunca estamos sós… há sempre uma raposa perto de nós!




Mar em tua lua

 Este mar em tua lua

Dos teus lábios meu luar

Desta palavra nua e crua

Nos beijos de beijar

 

Este mar de aventura

Enquanto não me canso de acariciar

Do teu corpo a bravura

Quando este mar é o teu lar

 

E se este mar

Morrer…

Terei eu forças para continuar

Quem sabe até escrever

 

 

 

Alijó, 27/10/2022

Francisco Luís Fontinha

Os teus lábios

 

Enquanto escrevo as primeiras palavras

Nas lágrimas do sono

Oiço das janelas dos teus olhos

O erguer das madrugadas

Sobre o mar

 

E um barco me leva

Transporta para a montanha da saudade

Enquanto escrevo as primeiras palavras

Sinto que estou vivo

Por tenho na mão os teus lábios

 

 

Alijó, 27/10/2022

Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Noites em luar

 Vêm aos teus lábios

As manhãs frias de Inverno,

E deste vento açaimado

Escuto os pequenos silêncios da tua mão,

Escuto-os e escrevo-os no pavimento térreo da insónia

Que um dia me cobrirá de sonhos,

Como das pedras se ouvem os gemidos

Das noites em luar,

E sento-me no teu colo,

E das lágrimas que vomitas sobre o meu peito

Encontro as sílabas das searas do loiro trigo

Que aquele rio há-de engolir,

E matar.

Vêm aos teus lábios

As manhãs frias de Inverno,

E caminho até ao infinito,

Umas vezes tropeçando nas sombras dos embondeiros,

Outras, ouvindo as gargalhadas dos mabecos

Em busca de carne…

E sento-me no teu colo, como me sentava quando menino.

 

 

 

 

Alijó, 26/10/2022

Francisco Luís Fontinha

Geometria da paixão do sono

 À tua janela

Das minhas palavras ensonadas,

Na tua boca estes transversais silêncios,

Luzes, estrelas, beijos de luar

Que poisam nos lábios dos pequenos círculos do sono,

 

À tua janela

A geometria da paixão que das tuas mãos

Invade os quadriculados olhares,

E no peito, trazes as noites junto ao mar…

Sem que de dentro de nós

 

Acordem as palavras incógnitas

Que semeávamos no rio,

Haja alegria quando as noites

Têm janelas com braços,

E pequenas fotografias de medo,

 

À tua janela

Uma estátua de sal olhava-me,

E antes da minha entrada nos teus braços

Eu sabia que tinhas uma lâmina de geada

Que se alicerçava no meu rosto,

 

Pego neste relógio de pulso, e cansado

De me avisar que a noite vem em viagem,

Que as flores dos teus cabelos

Dormem nos lençóis da insónia…

Como dormiam todos os pássaros junto à tua janela.

 

 

 

Alijó, 26/10/2022

Francisco Luís Fontinha

Palavras ao vento

 

O vento deixou de soprar

Está cansado

Não pode trabalhar

O vento já não me pertence

Como não me pertencem

 

As palavras que lanço ao vento

O beijo

O vento

E os lábios do vento

São palavras

 

Madrugadas

Que esperam pelo vento

O vento que deixou de soprar

E teima em não trabalhar

Maldito sejas vento de amar

 

 

Alijó, 26/10/2022

Francisco Luís Fontinha