O fim de tarde, minha
querida.
A cidade vomita palavras
abstractas que só a tempestade sabe prenunciar.
As flores poisadas na tua
lápide parecem lágrimas de pássaros esquecidos nas árvores de ontem,
Procuro por um corpo,
nada encontro e, apenas uma esquina de luz, longe, bem longe, acorda das
sombras onde te deitas.
Vai distante o teu olhar
de bom dia pela manhã,
Erguem-se as abelhas da
colmeia colorida pelo silêncio da despedida,
Um SIM, um NÃO, ou… um
apenas talvez,
Se deita no teu peito.
Visito-te todos os dias,
Conversamos,
Falamos sobre poesia,
Pintura,
Falamos das tardes
inquietas de Luanda… ao final do dia.
Nada me falta, minha
querida.
Tenho tudo e, nada tenho.
Não me apetece abrir a
ponta de entrada, para este cubículo desorganizado, entre livros e rochedos,
mesmo assim, nunca consegui, depois de te despedires de mim, olhar o mar.
Abro a janela, o mar longínquo
deseja-me como um louco e, ainda hoje, minha querida, tenho medo da (lhá).
Um pilar de areia cai
sobre a calçada.
Lágrimas de papel vivem
disfarçadas no teu rosto; hoje, não choras.
O sangue invisível que
corria nas tuas veias, hoje, é apenas uma fina lagoa azul suspensa na tarde,
nada mais, minha querida, nada mais…
Hoje és apenas uma
equação de fé que deambula pela casa descalça;
O medo.
Amanhã, quem sabe, “O fim
de tarde, minha querida”.
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 08/11/2020