Pediram-me
silêncios...
e eu, nas nuvens
amarguradas da tempestade da insónia,
desenhei... gritos,
transformei abraços
em pedaços de madeira,
escrevi beijos em
bandejas com flores grisalhas,
tinham cabelos
cinzentos,
os homens das
esplanadas inventadas,
depois... depois
sentei-me no pôr-do-sol,
chamei a mim a
tristeza do fim de tarde,
peguei num cigarro
quase moribundo... e vi-o morrer nos meus dedos,
sentia-lhe os
últimos desejos,
sabia que pouco
tempo depois morreria como um desprezado,
como tantos homens
morrem,
como tantas crianças
nascem...
como tantos
cinzeiros esquecidos num roseiral,
pediram-me
silêncios...
e pintei nas pratas
enroladas do invisível desassossego,
bolhas castanhas com
odor a calafrios...
o corpo emagrecido
rangia,
os alicerces
destruíam-se enquanto o vento se escondia numa locomotiva
abandonada,
sem percebermos que
nunca existiu um ponto fixo de chegada,
havia lanternas com
dentes de marfim,
tínhamos no sótão
um guindaste de brincar,
abríamos a janela,
e puxávamos o mar,
só para nós...
até que uma fina
película de cacimbo comeu-nos as bolhas castanhas...
o corpo começou a
arder,
os braços
ancoravam-se aos indolentes amanheceres...
vi uma luz que vivia
dentro de uma caixa de vidro,
acenou-me... e no
tecto começaram a nascer gaivotas,
ouvíamos os apitos
dos barcos de papel,
e nenhum marinheiro
se atreveu a resgatar-nos dos gritos das bolhas castanhas...
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 1 de
Setembro de 2014