Hoje perdi definitivamente a alegria
de abraçar os olhos da lua
e de todas as estrelas que viviam
no tecto da minha solidão
à procura da saudade
nas planícies sem destino,
queimei todos os livros
e os cortinados da infância
na lareira que sobejou da viagem ao
fundo do rio,
hoje sem perceber a claridade
dos relógios suspensos nas paredes da
sala de jantar
as fissuras de chocolate em crucifixos
cansados
das amêndoas amargas na noite dos
poemas
as árvores doentes poisadas no meu
sorriso fingido
de avião sem motor
redopiando os círculos de vento
sobre as clareiras da doença,
tão frágil o esqueleto do tempo
com a voz melancólica
do poeta sem vida.
(poema não revisto)