Dentro de uma língua de silêncio
escondes os teus lábios,
no mar
deixas ficar os sonhos
e as gotinhas de orvalho,
nos cortinados da madrugada
abres a janela do desejo
e uma gaivota de prazer
voa sobre os teus olhos de maré
antes da chegada do pôr-do-sol,
a lua do teu ventre
mingua no interior das estrelas de algodão
e todos os pássaros às bicadas a uma mão
que o corpo do homem em solidão
deixou ficar juntamente com os sonhos,
o vento leva tudo
e o mar
no mar
em busca dos meus ossos,
e o mar
no mar
as minhas palavras em congestão
depois do pequeno-almoço,
Dentro de uma língua de silêncio
escondes os teus lábios,
no mar...
e o mar
deitado no teu peito de púrpura amanhecer.
segunda-feira, 7 de maio de 2012
O centro da noite
Às palavras
o pavor de acordar no centro da noite
puxar de um cigarro
e não existirem cigarros
puxar de um livro
e dentro do livro
nada
simplesmente folhas de papel
sem palavras
sem rostos
sem cigarros
e tudo morre dentro do sonho.
o pavor de acordar no centro da noite
puxar de um cigarro
e não existirem cigarros
puxar de um livro
e dentro do livro
nada
simplesmente folhas de papel
sem palavras
sem rostos
sem cigarros
e tudo morre dentro do sonho.
domingo, 6 de maio de 2012
À minha terra
De onde eu vinha
não sabia para onde ia
e que um dia
eu iria
perceber
que não sabendo
eu sabia
que um dia
regressaria
à terra que me viu nascer
na terra onde quero morrer.
(Paquete Império)
A noite de brincar
Quando a noite se esquece de acordar
e no jardim dos plátanos uma criança a chorar
quando da noite crescem sonhos de sonhar
e encerrada
a janela para o mar
quando finge amar
a porta da madrugada
quando a noite não tem mais nada
e há palavras de brincar
quando a noite magoada
se esconde no luar
(Quando a noite se esquece de acordar
e no jardim dos plátanos uma criança a chorar)
quando um barco embriagado
se cansa de navegar
porque a noite de brincar
morreu a abraçar
o menino de chorar
coitado...
e no jardim dos plátanos uma criança a chorar
quando da noite crescem sonhos de sonhar
e encerrada
a janela para o mar
quando finge amar
a porta da madrugada
quando a noite não tem mais nada
e há palavras de brincar
quando a noite magoada
se esconde no luar
(Quando a noite se esquece de acordar
e no jardim dos plátanos uma criança a chorar)
quando um barco embriagado
se cansa de navegar
porque a noite de brincar
morreu a abraçar
o menino de chorar
coitado...
sábado, 5 de maio de 2012
Alucinação
Oiço a musicalidade do teu olhar rodopiando nos meus lábios, na minha boca seca encostas a tua língua adormecida pela noite de lua cheia, estás nua, e calças as galochas pretas...
(nada desta merda aconteceu; efeitos secundários do Champix)
Tecto da insónia
Deixei de perceber
as manhãs de primavera
deixei de olhar as plantas
e os pássaros de meu jardim,
deixei de escrever
palavras nas paredes do meu quarto,
cerrei a janela,
a porta,
e destruí a lâmpada de halogéneo
suspensa no tecto da insónia.
as manhãs de primavera
deixei de olhar as plantas
e os pássaros de meu jardim,
deixei de escrever
palavras nas paredes do meu quarto,
cerrei a janela,
a porta,
e destruí a lâmpada de halogéneo
suspensa no tecto da insónia.
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