(aos poucos amigos que na obscuridade tudo fazem para que eu não passe fome; Obrigado)
Aqui tão perto
E tudo parecia tão longe
Aqui tão perto
Quando todos os vidros das janelas do inverno
Adormeceram
Aqui tão perto
Quando cresce o néon da primavera
E todas as flores
Tão belas
Tão… especiais
Aqui tão perto
E tudo parecia tão longe
Inatingível e desumano e horrível
Aqui tão perto
E tudo parecia tão longe
A primavera.
segunda-feira, 26 de março de 2012
domingo, 25 de março de 2012
A mão da laranja
Deixei de sonhar
E amar
O meu corpo é uma roda dentada
Mergulhada em limalha de ferro
E pingos de solda
Transporto-me para a algibeira da noite
E todas as minhas veias desbagoam num beco sem saída
Prendem uma corda de nylon nas minhas mãos desiludidas
E lentamente cessa em mim a respiração
E lentamente cessam em mim os fios de sémen
Que deixaste na minha insónia
Antes do clarear do dia
Deixei de sonhar
E amar
Quando desapareceste entre as lágrimas do rio
O meu caixão de papel treme nos lábios da solidão
E adormeço na claraboia da infância
Morro
Morro sem saber o que é a felicidade
E o amor que acorda nas palavras da tarde
Morro
Morro sem saber o que são acácias
E que na noite crescem lágrimas na mão de uma laranja
E morro
Nos pergaminhos da loucura
Antes do nascer do sol
Deixei de sonhar
E amar
Eu suspenso no estendal sobre o mar
Eu
Lentamente na garganta do cansaço
Quando a miséria se alimenta dos meus olhos
E na minha boca vejo o esqueleto da fome
Morro
Morro feliz porque deixei de sonhar
E amar
E cessaram em mim todas as orquídeas
E cessaram em mim todos os horrores…
E amar
O meu corpo é uma roda dentada
Mergulhada em limalha de ferro
E pingos de solda
Transporto-me para a algibeira da noite
E todas as minhas veias desbagoam num beco sem saída
Prendem uma corda de nylon nas minhas mãos desiludidas
E lentamente cessa em mim a respiração
E lentamente cessam em mim os fios de sémen
Que deixaste na minha insónia
Antes do clarear do dia
Deixei de sonhar
E amar
Quando desapareceste entre as lágrimas do rio
O meu caixão de papel treme nos lábios da solidão
E adormeço na claraboia da infância
Morro
Morro sem saber o que é a felicidade
E o amor que acorda nas palavras da tarde
Morro
Morro sem saber o que são acácias
E que na noite crescem lágrimas na mão de uma laranja
E morro
Nos pergaminhos da loucura
Antes do nascer do sol
Deixei de sonhar
E amar
Eu suspenso no estendal sobre o mar
Eu
Lentamente na garganta do cansaço
Quando a miséria se alimenta dos meus olhos
E na minha boca vejo o esqueleto da fome
Morro
Morro feliz porque deixei de sonhar
E amar
E cessaram em mim todas as orquídeas
E cessaram em mim todos os horrores…
A manta de solidão
Sempre vivi embrulhado a uma manta de solidão, sempre
- Porquê a mim? Tive sorte,
Que alguém entra na minha vida crescem raízes de vergonha, sempre que desce a noite sobre a seara do amor alguém sente vergonha de como eu sou e vivo, mas não me importo, não me importo porque a minha miséria pertence-me, herdei-a à nascença nas ruas de luanda,
O velho Armindo às voltas com a roda dos dias e das horas e dos minutos e dos segundos, coitado, o velho Armindo esqueceu-se da manivela das horas
- Porquê a mim?,
E nasci às sete horas e trinta minutos, quando tenho a certeza que se não fosse a inércia do velho desdentado e coxo e agarrado à próstata,
- Tive sorte,
Eu tinha nascido ao meio dia em ponto, e a parteira no intervalo das torradas e café com leite,
- Puxe Puxe que está quase,
Fiquei entalado entre as sete horas e vinte e nove minutos e as sete horas e trinta minutos, esfrego os olhinhos e ouve-se a minha primeira caralhada
- Só mais um pouco Puxe com força…
Foda-se,
A parteira encolhe os ombros e de volta às torradas e café com leite tropeça no meu pai quase a desfalecer,
- É um menino,
É gorducho e malcriado,
- Olha… Desmaiou Deve ser da emoção,
Os cigarros transpiram e dissolvem-se-lhe na algibeira da camisa, que alguém entra na minha vida crescem raízes de vergonha, sempre que desce a noite sobre a seara do amor alguém sente vergonha de como eu sou e vivo, mas não me importo, não me importo porque a minha miséria pertence-me
- É minha e É minha e É minha,
Herdei-a
- Estás a dormir Armindo? E que não Não estou a dormir apenas descanso os olhos…
Pertence-me porque herdei-a nas ruas de luanda quando sentado na esplanada do Baleizão um aglomerado de silêncio embateu contra a esplanada, o meu pai desfaleceu e tombou sobre o pavimento térreo do musseque,
- Era domingo e estava sol
Herdei-a não se cansava de gritar o gorducho remelado à porta do púbis e a proferir insultos à parteira,
Foda-se,
- E às sete horas e trinta minutos
Onde estás Armindo?
- E às sete horas e trinta minutos procuro a janela da maternidade e olho pela primeira vez a cidade, e os machimbombos de mão dada a borboletas encarnadas e caracóis loiros, como as gajas de Cais de Sodré, sentadas em mesas imaginárias à pesca de taças de champanhe e copos de uísque,
Armindo
- O primeiro cálice da noite o primeiro cigarro da noite o primeiro desejo da noite E pergunto-me, Porquê eu?,
Tiveste sorte Responde-me o velho Armindo,
- Que alguém entra na minha vida crescem raízes de vergonha, sempre que desce a noite sobre a seara do amor alguém sente vergonha de como eu sou e vivo, mas não me importo, não me importo porque a minha miséria pertence-me, herdei-a à nascença nas ruas de luanda,
Se te fosses foder Armindo…
(texto de ficção)
Fingimento de amar
Deixei de acreditar no amor
E nas pessoas que fingem amar
Deixei de acreditar
Deixei de acreditar no amor
E na insónia
Deixei de acreditar
Deixei de acreditar no amor
E nas pessoas que fingem amar
Deixei de acreditar
E nas pessoas que fingem amar
Deixei de acreditar
Deixei de acreditar no amor
E na insónia
Deixei de acreditar
Deixei de acreditar no amor
E nas pessoas que fingem amar
Deixei de acreditar
sábado, 24 de março de 2012
Os lábios da lua
(Às árvores tombadas sobre a finíssima poeira da noite)
Abraças-me
Abraças-me como se eu fosse um fio de luz
Suspenso nas madrugadas de insónia
Quando todos…
Quando todos os livros dormem nos lábios da lua
E a cidade se extingue junto ao cais
(Queria ser um livro de poesia
Ou simplesmente um fio de luz
Também gostava de ser uma janela com vista para o mar…)
Abraças-me
Abraças-me na canseira da noite
Dentro dos bibelôs poisados sobre a sombra do teu sorriso
E vejo a cidade
Que lentamente se alimenta da minha solidão
E o meu corpo transforma-se em rosas
E embrulhado em beijos
Começo a descer até ao estômago da cidade
(Queria ser um livro de poesia
Ou simplesmente um fio de luz
Também gostava de ser uma janela com vista para o mar…)
Abraças-me
Abraças-me como se eu fosse um fio de luz
No deleite dos teus seios
Que brincam nas mãos da cidade
Abraças-me.
Abraças-me
Abraças-me como se eu fosse um fio de luz
Suspenso nas madrugadas de insónia
Quando todos…
Quando todos os livros dormem nos lábios da lua
E a cidade se extingue junto ao cais
(Queria ser um livro de poesia
Ou simplesmente um fio de luz
Também gostava de ser uma janela com vista para o mar…)
Abraças-me
Abraças-me na canseira da noite
Dentro dos bibelôs poisados sobre a sombra do teu sorriso
E vejo a cidade
Que lentamente se alimenta da minha solidão
E o meu corpo transforma-se em rosas
E embrulhado em beijos
Começo a descer até ao estômago da cidade
(Queria ser um livro de poesia
Ou simplesmente um fio de luz
Também gostava de ser uma janela com vista para o mar…)
Abraças-me
Abraças-me como se eu fosse um fio de luz
No deleite dos teus seios
Que brincam nas mãos da cidade
Abraças-me.
sexta-feira, 23 de março de 2012
Gisela
Gisela,
- Os teus olhos
Perguntas-me o que têm os meus olhos e nada, absolutamente nada, os meus olhos são cristais de silício suspensos nas árvores do jardim junto ao mar,
- São palavras que adormecem a minha mão quando acaricio a velha máquina de escrever, eu, eu infinitamente cansado depois da tarde se evaporar entre os algarismos dos ponteiros do relógio, e sim, os teus olhos são palavras,
Ai palavras, se os meus olhos fossem palavras
- Sim Palavras, botões de rosa, um alfabeto recheado de sílabas e vogais e sonhos desfeitos sobre o rio imaginário que circunda o alpendre da noite, e eu sinto o perfume do teu cabelo junto à ombreira da velhíssima porta de madeira, entras e poisas as tuas mãos no silêncio do meu quarto, olho-te e recordas-me as tardes quando eu corria com um papagaio de papel e chorava, e chorava quando ele se prendia na mangueira e ficava com a solidão do cordel na mão,
Eu era feliz, se os meus olhos fossem palavras eu era feliz,
- Mas os teus olhos são palavras Gisela, botões de rosa, um alfabeto recheado de sílabas e vogais e sonhos desfeitos sobre o rio imaginário que circunda o alpendre da noite, e da velhinha máquina de escrever alguns pingos de saliva sobejam dos lábios, as teclas semeadas de reumático, e oiço a voz que atravessa a janela Para a tensão arterial Reumático Próstata Fígado e vesicula e Ulceras, e raio, e raio porque daqui a uns dias vou precisar dessa porcaria toda, mas os teus olhos são palavras
Sabes Tenho medo da tua voz,
- Porquê Gisela?,
Não sei Mas cada vez que oiço a tua voz fico a tremer, não sei…
- Tens medo de mim Gisela?,
Não Não tenho medo de ti, e nunca tive medo de ti, mas a tua voz
- Que tem a minha voz,
A tua voz parece as arcadas do medo quando os cristais de silício estão suspensos nas árvores do jardim junto ao mar, é assim a tua voz,
- Palavras Gisela, Palavras,
E via o rio na algibeira de um parvalhão a fumar cigarros travestidos de haxixe,
- Tens medo de mim Gisela?,
O meu nome é Gisela e sou uma personagem inventada pelo parvalhão que escreve este texto…
(texto de ficção)
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