terça-feira, 13 de março de 2012

Escolhas de José Luís Peixoto – Conte Connosco 2

Cacimbo desgovernado

Confuso
Porque o silêncio se acorrenta às gaivotas da noite
E dentro da solidão
Uma criança
Inventa sombras na água do mar

Uma criança
Finge que esqueceu a ilha do Mussulo
A baía
Finge que os machimbombos eram pássaros
Suspensos nas mangueiras do quintal
Finge…

Finge que Luanda se abraçou ao cacimbo desgovernado
E derreteu-se antes de acordar o dia

Confuso
E dentro da solidão
Um espelho confuso
Inventa sombras nas mãos da criança
Quando a noite se evapora nos limos embalsamados do desejo
Finge que Luanda se abraçou ao cacimbo desgovernado

Uma criança

(Uma criança
Finge que esqueceu a ilha do Mussulo
A baía
Finge que os machimbombos eram pássaros
Suspensos nas mangueiras do quintal
Finge…)

Antes de acordarem as palmeiras dos teus olhos.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Dizem-me que um texto meu foi selecionado por José Luís Peixoto e que estou entre os 26 selecionados.
Confuso, não me lembro que texto é e se estão a brincar comigo ou a falar a sério.
Em todo o caso muito obrigado ao José Luís Peixoto.
Feliz.

blog Cachimbo de Água (Angola) em destaque


http://cachimbodeagua.blogs.sapo.ao/

domingo, 11 de março de 2012

Dias de mim Sem fim

Dias de mim
Sem fim
Tristezas que me olham das paredes cinzentas da manhã
Dias de mim
Sem fim

Quando tudo à minha volta morre
Cinzas que sobejaram dos papéis cansados
Nas palavras sem nexo
Das palavras abstratas da noite
Dias de mim
Sem mim

(Dias assim
Sem fim
À porta da noite)

Quando tudo morre
E as sombras são pessoas
E as mãos das pessoas
Árvores que tombam no silêncio das palavras

(Dias assim
Sem fim
À porta da noite)

Tristezas que me olham das paredes cinzentas da manhã.

sábado, 10 de março de 2012

A minha vida é uma tela

Uma tela sem nome sem cor sem pernas
Uma tela sem braços
Sem amor
A minha vida é uma tela
Dentro de um cubo de vidro
E sem janelas
E sem portas
Uma tela sem nome sem cor sem pernas

Quando acorda a madrugada
A minha vida é uma tela
Sem nome sem cor sem pernas
Desgovernada

Uma tela sem braços
Sem beijos
Sem nada…

Quando acorda a madrugada

sexta-feira, 9 de março de 2012

Cansaço das palavras

Há nas palavras cansaço
Pétalas de vogais esvoaçam e caiem no chão
Há nas palavras sílabas em abraço
No rosto de uma mão,

Há nas palavras cansaço
Tristeza quando cai a noite sobre o mar
Palavras infelizes no sargaço
Que passeiam no jardim sonâmbulo de amar,

Há nas palavras cansaço
Dentro de um livro que arde na fogueira
Palavras em soluços nas palavras cansaço
Das palavras que se extinguem na lareira.