(desenho
de Francisco Luís Fontinha)
Partíamos
sem regresso, ouvia dos pulmões do paquete a respiração ofegante,
a cidade desembrulhava-se do silêncio do mar como um rebuçado
acabado de atracar ao cais da infância, só tínhamos um caixote com
algumas recordações, retratos, poucos, e roupas...
E o
poeta?
Trapos,
restos de ossos, nas mãos o cansaço das sombras da aldeia acabada
de se esconder dentro da eira granítica da solidão,
Partíamos...
Sem
regresso, inventava a “mulher clitóris” e percebia que os Mão
Morta pertenciam ao meu futuro, e que um dia
O
Poeta?
Morreu,
e que um dia mataria as horas e os minutos...
“mulher
clitóris”,
O
Rossio erguia-se do manuscrito sem título, perdido, a morte
disfarçada de cigarro, o Rossio entranhava-se no meu peito, as
Avenidas pertenciam-me, como todas as janelas com fotografia para o
mar,
A
ponte,
O
fumo vadio galgando as minhas roupas como uma aranha sem nome, fios,
pedaços de saliva e gotículas de suor, a luz absorvida pelo teu
corpo de naftalina, a gaveta do guarda-fato sem nada guardar,
esfomeado, húmido, este triste quarto despido dos vidros e dos
cortinados, frestas, sombras que um dia se ergueram durante a noite e
fugiram...
Regressar?
Partíamos...
Sem
perceber o que era a Saudade...
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
Domingo,
8 de Fevereiro de2015