quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Precisar


Precisava de ti
com as janelas escancaradas
precisava de ti
com as portas amachucadas
precisava
precisava de ti
com o telhado de vidro
e as paredes da tua pele
o meu abrigo
precisava
de ti
sílaba em perigo.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
23/01/2013
Alijó

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

As imagens do poema


Nunca sei se as tardes são frígidas
pacientemente esperando
as noites compridas
nunca sei
se as horas esquecidas
dormem ou não dormem
tal como eu
um pequeno cedro que tomba sobre a calçada
dormem ou não dormem
as pequenas palavras de ti
ditas pela boca em delírios desejos
e tal como eu

Nunca sei
se os relógios que me anunciam as horas esquecidas
têm ou não têm
mecanismos de ti
tal como eu
um pequeno cedro que tomba sobre a calçada

Tal como eu
nunca sei
se nos teus olhos vivem estrelas
ou dormem nuvens de chocolate
nunca sei
e tal como eu
um pequeno cedro que tomba sobre a calçada
sem perceber se as tardes são frígidas pacientemente esperando a melancolia em três actos

E o verdadeiro poema escreve-se com imagens
desenha-se com sons
e nunca sei
tal como eu
as pequenas palavras de ti
ditas pela boca em delírios desejos.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
Alijó
E se um dia eu te oferecer flores?
Dir-te-ei que enlouqueceste como enlouquecem as serras depois das tempestades de neve, assim, ficar-me-ás nas entranhas mãos que o perfume dos silêncios mares deixam ficar nas pálpebras tristes dos corpos imperfeitos das cidades vazias, dir-te-ia apenas que o amor é uma coisa, fria, compacta, estranhamente estranha, infeliz, as palavras sobre a aldeia onde nasci, vazia
E se um dia eu te oferecer flores? Provavelmente não será amor, acredito que seja o meu velório, e possivelmente não o será, provavelmente seja um casamento, o teu baptizado, talvez, um dia, percebas os meus poemas que escrevi, e deixei
De escrever?
Sobre a aldeia vazia, perdidamente entre duas distâncias, um ponto insignificante algures no Rossio, ou uma recta paralela ao rio tal como os carris que te levavam para Belém, ou talvez
O que me dizes das flores?
De escrever, ou talvez sobeja um ponto final para colocar no paragrafo em suspenso, à espera que regresses do outro lado da circunferência amarela, os círculos de luz, abelhas envenenadas pelas garras ciumentas da tua boca carnívora, enfeitada com cigarros de enrolar e pedacinhos de pétalas de papel,
Ou talvez
De escrever, desesperar até que a morte nos separe, acredites, não acredites, eu vou partir, oiro, marfim, ou talvez, dir-te-ei que enlouqueceste como enlouquecem as serras depois das tempestades de neve, assim, ficar-me-ás nas entranhas mãos que o perfume dos silêncios mares deixam ficar nas pálpebras tristes dos corpos imperfeitos das cidades vazias, dir-te-ia apenas que o amor é uma coisa, fria, compacta, estranhamente estranha, infeliz,
Ou
Dir-te-ia que os telhados são como as flores que tenciono oferecer-te, ou talvez não, ou
Infeliz,
Ou
Dir-te-ia que os telegramas (telegramas?) dir-te-ia que os telhados de papel sobre a aldeia onde nascia arderam, tal como as flores, tal como os poemas do Inverno de écharpe na cabeça à lareira da sonolência à espera que o livro poisado na mão acordasse e se transformasse em simples criança desenhando sonhos nas paredes escuras, nas paredes frias, dos vidros que guardam as janelas
Do amor.

(texto de ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
Alijó

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Os parêntesis curvilíneos das plantas carnívoras

(    )
Talvez um dia, mas hoje não, hoje não posso amor, Hoje estou em alerta vermelho e o mar está revoltado, provavelmente só comigo, entranha-se-me no peito, arrepia-se-me como os arbustos quando nos deitamos, clandestinas as noites inventadas pelo gago, e que não, hoje não
Não sei,
O fruto está maduro, e eu saliento que hoje estou em Alerta Vermelho, rabugenta, alguns enjoos, matinais e diurnos, comprimentos de onda, a distância
Entre dois enjoos sucessivos,
A terra enrola-se na língua do mar, e o fruto pertence ao gago de barbas compridas sem ondas de enjoos, é necessariamente e não precisamos da Justiça para percebermos que o fruto pertence a quem o colhe, ponto final, paragrafo, travessão
(Tinha nos lábios um fio de espuma que me recordavam os parêntesis curvilíneos das plantas carnívoras do jardim das almas mortas, na boca coabitava um gosto indefinido, espesso, possivelmente amargo e ao mesmo tempo, triste, e cansados acordávamos de madrugada com a boca encharcada de vodka e esqueletos de cigarro depois de esquartejados pelo gago de Alcântara, e ao longe
A ponte a entrar-nos quarto adentro, como as moscas de cinco patas que vimos no festival de música, sem percebermos que estávamos dentro de um cubo frio e doce),
Na boca coabitava-nos um gosto indefinido, espesso, possivelmente amargo e ao mesmo tempo, triste, e cansado como as metáforas crianças das histórias de adormecer, ouvíamos o gago galgando as ruas à procura da ponte dos sonhos - Por porpor fafavoror ondonde fica a re reretreettete, e tínhamos descoberto o amor, as palavras de amor, as flores, as flores de amor, a chuva, de amor
Entre dois enjoos sucessivos,
E diziam-nos que muitos Alertas Vermelhos provocam
E ao longe sabíamos que dentro de nós tínhamos um fio de espuma como os parêntesis curvilíneos das plantas carnívoras do jardim das almas mortas, e provocam
Provocam o vicio da leitura, e provocam enjoos, dois diários, como os submarinos invisíveis que os gagos da cidade dos
E delas verdadeiros poemas com sabor a gotinhas de suor no nu corpo de uma mulher, qualquer mulher é bela, todas são belas, esbeltas, perfumadas, como todas as flores, também elas, e todos os poemas, também eles, belos, todos, e cansadas como os frutos das areias em flor,
Dos
Em flor,
Por porpor fafavoror ondonde fica a re reretreettete,
Ao fundo do corredor vira à esquerda, desça sorrateiramente as escadas de madeira, e
Cidade com jardins de almas mortas onde viviam plantas carnívoras com dentes de prata, a cidade aos poucos escurece, deambula, escura manhã de Inverno, e aos poucos, evapora-se e morre,
E na quarta porta onde diz escritório É lá a retrete, não tem nada que enganar,
E dá factura?
Claro, dá factura, dá enjoos e tonturas, e não, e nunca esquecer os gemidos roubados do rio com cinco cacilheiros no estômago e um petroleiro no fígado
É da vodka diagnostica o doutor parafuso sem a ajuda de meios auxiliares de diagnóstico, enquanto o colega gago diz que devem ser pedras no rim central porque o petroleiro parece inclinado para a direita três pequenos graus de vento, sem sabermos que na enfermaria onde estão os cacilheiros e o petroleiro também temos a presença do louco homem de barba branca e cabelo encarnado que num ápice pergunta-nos
Por porpor fafavoror ondonde fica a re reretreettete, e todos respondemos
Ao fundo do corredor vira à esquerda, desça sorrateiramente as escadas de madeira, e
E nunca se esqueça de inserir a moeda na ranhura.

(texto de ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
Alijó

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(Os poemas tristes dos poetas tristes
que amam tristemente mulheres invisíveis)

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