E se um dia eu te oferecer flores?
Dir-te-ei que enlouqueceste como enlouquecem as
serras depois das tempestades de neve, assim, ficar-me-ás nas
entranhas mãos que o perfume dos silêncios mares deixam ficar nas
pálpebras tristes dos corpos imperfeitos das cidades vazias,
dir-te-ia apenas que o amor é uma coisa, fria, compacta,
estranhamente estranha, infeliz, as palavras sobre a aldeia onde
nasci, vazia
E se um dia eu te oferecer flores? Provavelmente não
será amor, acredito que seja o meu velório, e possivelmente não o
será, provavelmente seja um casamento, o teu baptizado, talvez, um
dia, percebas os meus poemas que escrevi, e deixei
De escrever?
Sobre a aldeia vazia, perdidamente entre duas
distâncias, um ponto insignificante algures no Rossio, ou uma recta
paralela ao rio tal como os carris que te levavam para Belém, ou
talvez
O que me dizes das flores?
De escrever, ou talvez sobeja um ponto final para
colocar no paragrafo em suspenso, à espera que regresses do outro
lado da circunferência amarela, os círculos de luz, abelhas
envenenadas pelas garras ciumentas da tua boca carnívora, enfeitada
com cigarros de enrolar e pedacinhos de pétalas de papel,
Ou talvez
De escrever, desesperar até que a morte nos separe,
acredites, não acredites, eu vou partir, oiro, marfim, ou talvez,
dir-te-ei que enlouqueceste como enlouquecem as serras depois das
tempestades de neve, assim, ficar-me-ás nas entranhas mãos que o
perfume dos silêncios mares deixam ficar nas pálpebras tristes dos
corpos imperfeitos das cidades vazias, dir-te-ia apenas que o amor é
uma coisa, fria, compacta, estranhamente estranha, infeliz,
Ou
Dir-te-ia que os telhados são como as flores que
tenciono oferecer-te, ou talvez não, ou
Infeliz,
Ou
Dir-te-ia que os telegramas (telegramas?) dir-te-ia
que os telhados de papel sobre a aldeia onde nascia arderam, tal como
as flores, tal como os poemas do Inverno de écharpe na cabeça à
lareira da sonolência à espera que o livro poisado na mão
acordasse e se transformasse em simples criança desenhando sonhos
nas paredes escuras, nas paredes frias, dos vidros que guardam as
janelas
Do amor.
(texto de ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
Alijó
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