quinta-feira, 13 de março de 2014
quarta-feira, 12 de março de 2014
Uma árvore suspensa na solidão
foto de: A&M ART and Photos
|
Há no teu sangue a paixão do
amanhecer, penso eu,
vives como se fosses uma árvore
suspensa na solidão,
choras, sonhas? Há em ti as insígnias
da madrugada,
como lisas paredes ente a montanha e o
mar,
há no teu sangue a saudade da vida,
dos telhados em zinco perdidos nos velhos musseques...
há no teu peito uma rosa dentada, uma
Bedford amarela prisioneira a um cordel imaginário, sem folgas, sem
ruas, esplanadas, ou... ou simples palavras,
Há no teu corpo uma âncora em papel
que te fundeia ao cais da dor,
âncora salgada e filha do barco
marinheiro em combustão,
vives no teu sangue como serpentes
envenenadas, tristes... e ausentes,
há no teu sangue a noite onde escreves
poemas,
inventas rios e dos rios... recordas-te
do rio Congo? E das bananeiras pedindo-te perdão...
… ou... ou quando te deitavas na
areia límpida do Mussulo,
Há nas tuas veias o sangue da paixão,
penso eu,
aquele que te alimenta, o penhasco
bravio dos pinheiros mansos,
há em ti cortinados que encerram as
janelas do teu olhar,
meigo como as gaivotas, colorido...
sensato, há no teu sangue o meu sangue,
o sangue dos livros que leste e
depois... apenas lá,
lá... no longínquo Oceano de lata.
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 12 de Março de 2014
terça-feira, 11 de março de 2014
Regressar
foto de: A&M ART and Photos
|
Imagino-me deitado nos teus recortados
sonhos de papel cenário,
acaricio a tesoura da saudade e
sinto-lhe o perfume do amanhecer,
há entre nós uma sombra louca em
betão armado,
amado cacilheiro vagueando ruas e
avenidas sem janelas para o mar,
imagino-me adormecido,
ausente dos teus beijos,
imagino-me deitado nos teus tristes
lábios quando a tua pele se despede da madrugada,
há uma ponte para atravessarmos, há
uma ponte imaginária nas tuas mãos de cidade sem nome...
e dos teus dedos vejo crescerem dentes
de gladíolos como desenhos de paixão ancorados ao meu peito de
celofane,
imagino-me sentado esperando o teu
regresso...
e sei que nunca vais regressar, porque
é impossível regressarem aqueles que nunca existiram...
e fico junto ao cais, imaginando-me
deitado nos teus recortados sonhos de papel cenário,
Imagino-me deitado nos teus olhos com
odor a amoreiras apaixonadas,
imagino-me cinzento,
nuvem sem rumo, nuvem em pequenos
farrapos de nada,
imagino-me sendo as tuas pálpebras e
percebo o significado da dor,
imagino-me deitado... de papel cenário,
cansado... cansado dos versos
embriagados,
imagino-me o cigarro que não consegue
arder porque acredita nos sonhos de papel cenário,
e quando se afunda a noite no meu
corpo...
o circo emerge de mim,
palhaços, trapezistas... e animais
embalsamados... imaginam-me deitado nos teus seios poéticos com
sabor a sílabas abençoadas,
como os pássaros...
como os pássaros poisados em jangadas.
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 11 de Março de 2014
Subscrever:
Mensagens (Atom)