quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Lua de papel


Há uma lua de papel
dentro de ti
redondinha
quadrada
à espera de ser amada
há uma lua
sem ti
senti
nas paixões do homem de prata
uma lua dentro de ti
que afaga a cidade
e ilumina a calçada

há uma lua endiabrada
dentro do teu ventre de mar
uma lua
uma lua de nada
nos braços de uma flor

há uma lua dentro de ti
vestida
embrulhada em finíssimos sorrisos de pérola adormecida

há uma lua de papel
dentro de ti
uma lua com sabor a mel
dentro de ti
há uma lua
com portas e janelas e olhos de vidro

há uma lua de papel
nos lábios
dentro de ti
o desejo verso da solidão ausente
feliz
nos lábios
contente porque nas acácias vêem-se os pássaros do silêncio tua dor
uma lua de papel nos braços de uma flor.

(poema não revisto)

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Coração de diamante

Quando sorri o sol
acorda uma nuvem
e o desejo da noite
sobressai nas entranhas da lua

a singela madrugada em flor
galgando ruas e calçadas
comendo poetas em dor
(escrevendo no chão molhado poemas de “merda”)

a singela madrugada em flor
à porta dela
vomitando palavras de amor
nas encruzilhadas
molhadas
que as mandíbulas do oceano
crescem nas árvores cansadas
que amanhã
o outono
tombará
como os sinos de luz
suspensos na água dos teus cabelos

quando sorri o sol
e nos teus olhos de mar
uma nuvem de esperança
sobressai nos teus lábios
como se nos dias de lua cheia
todos os barcos rompessem a neblina das tardes sem destino
a casa cai
tomba como as folhas das árvores
e cobre os poemas escritos no chão molhado das oliveiras em flor
e tudo
quando sorri o sol
e na tua mão poisa um coração de diamante...

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

E chora agora docemente


Docemente apaixonada
a chuva que penteia os teus cabelos encharcados de amor
docemente
na voz que a tarde constrói as palavras que semeia
apaixonada
sem saber que dói
a distância infinita de um olhar
docemente apaixonada pelo sorriso da rosa
que voa sobre o mar
e chora
agora
docemente apaixonada

docemente encantada

e chora
agora

antes que acorde a madrugada.
http://cachimbodeagua.blogs.sapo.ao/   

domingo, 23 de setembro de 2012

O poeta doido


Não tenhas medo dos braços que abraçam o mar
não
não tenhas medo dos lábios que beijam a saudade
não
não tenhas medo do amor
do amor que vive no teu coração

não tenhas medo da cidade
com as ruas atulhadas de abelhas saltitando de flor em flor
correndo sem correr
amando amar das mãos em desejo
quando cresce o amor
à tua boca em beijo

(azul a tela do teu corpo cansado de sofrer
nos meus olhos nascem versos doridos
doidos
varridos
sem eu saber)

não...
não tenhas medo do meu amor
não
não tenhas medo do poeta que pinta as paredes do teu corpo
sofrendo
sem ti

sofrendo em ti
e por ti
não
não tenhas medo do poeta louco

que às vezes no silêncio escreves o meu nome
no rio da tua cidade
com flores apaixonadamente
pelos barcos da solidão
dentro dos cacilheiros se escondem as gaivotas
e os loucos poetas da minha mão

não
não tenhas medo de mim.

(poema não revisto)

sábado, 22 de setembro de 2012

Nas flores do amor


Divago como um louco
nas flores do amor
do amor pouco
às flores com dor,

apaixonadamente
o amor que a lua engole nas noites de escuridão
divago como um louco
pouco
os suspiros do meu coração
nas ruas abandonadas e sem gente,

até acordar a cidade
abraçada ao rio da despedida,

divago como um louco
nas flores do amor
divago numa rua sem saída
com janelas de claridade,

e o louco
coitado
pouco
abandonado
divago
nas flores do amor
ao mar da saudade
e sinto as luzes dentro dos versos sem vaidade...

(poema não revisto)

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Carta de amor sem remetente


Não consigo escrever amo-te nos teus olhos
tenho medo de sussurrar-te ao ouvido a palavra desejo-te
e timidamente
timidamente escrevo nos meus lábios
a palavra quero-te,

hesito
e construo no silêncio do mar
a carta de amor sem remetente,

hesito
quando a lareira da noite cresce loucamente
e das tuas mãos oiço o vaguear das sílabas de amar,

e nas tuas mãos...
eu não consigo escrever a simplicidade das palavras
e sou covardemente agredido pelas flores
e não sou capaz
hesito
de escrever nos teus olhos... Amo-te.

(poema não revisto)

A maré dos prazeres


Há uma estrada de sentido único
que se alicerçou no meu quintal e cresceu e cresceu
cresceu tanto
cresceu até ao céu
e hoje
e hoje vive nos lábios da lua
e ao meio-dia
beija loucamente a estrela polar

há uma estrada de sentido único
com vista para o mar
quando os barcos rompem o salgado desejo da tua pele
em pedacinhos de amêndoa

(dizes que sou louco)

quando escrevo palavras no teu corpo de papel
pintado com sorrisos de sol
e pingos de neblina
antes de acordar o dia

quando escrevo as parvoíces na copa das árvores
e os pássaros das tuas tardes abraçada às oliveiras traquinas
suspensos nas cabras e nas ovelhas
coitadinhas

(dizes que sou louco)

coitadinhas das minhas palavras
quando o papel da tua pele
arde
transpira
evapora-se no meu sexo em cadências extintas na maré dos prazeres...

(poema não revisto)

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

O vinho do amor

De um cubo de vidro
habita o desejo vinícola dos teus seios amargurados
suspensos no abismo do sumo tentacular do silêncio
o teu corpo no meu corpo
um só cacho de sabor
que alimenta o vinho do amor

há abelhas que se masturbam sobre as tuas mãos
brincam
um rio e uma criança
e um homem com um chapéu de xisto sentado nas tuas coxas
poisa a enxada invisível sobre a mesa do jantar
enquanto inventas pasteis de nata e queijo de cabra
o homem entra nas tuas coxas com pálpebras de milho
e as torradas do pequeno-almoço
fingem um orgasmo de aveia
brincam
ele e ela e milímetros cúbicos de mosto dentro do cubo de vidro

gosto de ti recheada com as manhãs de chuva
quando as algibeiras das janelas de vidro
mergulham suavemente nos teus lábios

gosto de ti recheada de rosas amarelas e nuvens de prata
a uma só voz
sobressai
sobressai um gemido misto
e nas paredes do cubo de vidro
e nas paredes do cubo de vidro
a tua língua como uma caneta de tinta permanente
percorre o meu corpo de pergaminho

(poema não revisto)

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