quarta-feira, 10 de junho de 2015

Não sei…


Não sei…

Meu amor,

A tarde parece uma planície infindável,

Uma semi-recta apaixonada pela sombra do rochedo,

Um canhão disparando sonhos

E beijos,

Não sei…

Meu amor,

Os teus desejos,

Não sei…

Meu amor,

Porque tens nos lábios uma cereja em veludo,

 

E nas mãos…

Palavras para me oferecer,

 

E tudo

Porque não sei…

A razão de a tarde ser uma planície infindável.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 10 de Junho de 2015

terça-feira, 9 de junho de 2015

Manhã invisível


Não sei meu amor

Os dias

As horas

Segundos

De nada

Ausente

De ti

Quando a geada adormece no teu peito

Sacio as minhas mãos no teu corpo

Caem as folhas em papel do teu olhar

Sinto-me tão pequenino

Meu amor

Minúsculo

As veias

Os braços

Lábios teus de serpente envenenada

Envenenado dia

Amavas-me e eu não sabia

Hoje

Sei mas imagino que não o sei

Escrevo-te sem saber se existes

Não existes

Ou és como eu…

Nem existo nem existo

Aos olhos dos morcegos

A morte

Entranha-se em ti

Como a paixão derramou em mim um rio recheado de Cacilheiros

Putas

E drogados…

Hipnotizavas-me como se eu fosse um espelho em delírio dançando num quarto de vidro

Morro

Morro nos teus seios de veleiro de sono

Vagueando de porto em porto

De cidade em cidade

De equação em equação…

De equação em paixão

Cansei-me dos pássaros junto ao tejo

Cansei-me dos soldados de esperma descendo a calçada do adeus

E a cidade

Leva-me para a manhã invisível.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 9 de Junho de 2015

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Madrugada entre parêntesis


Não sabias que a noite dormia no teu colo,

Sorrias pincelados lugares

Enquanto as estrelas desapareciam da tua boca,

A madrugada suspensa na tua mão,

A luz do teu olhar…

Silenciando-se,

O teu coração irá cessar de caminhar junto ao mar,

Os pássaros poisarão nos teus ombros,

Acordará o dia

E a madrugada entre parêntesis…

Extingue-se como se extinguiram todas as sanzalas da tua vida,

E todos os abraços da tua noite.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 8 de Junho de 2015

domingo, 7 de junho de 2015

Perdido


Perdido nasci

Na sombra de um embondeiro,

Simplesmente sofri

A penumbra insignificante arte de navegar

No teu corpo de ausência,

Sofri,

E morri

Nos teus braços de agonia,

Sentia-me um estonteante homem sem palavras no coração,

Um esqueleto em decomposição,

Uma sinfonia,

Sou uma estátua de sémen

Esquecida numa cidade imaginária,

Uma folha de papel em cinza,

Voando,

Em direcção ao mar,

Perdido nasci

Como nascem as células dentro de ti…

Vagabundas memórias

Nos sofridos símbolos das plantas carnívoras,

Voando,

Voando sobre ti.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 7 de Junho de 2015

O corpo em movimento


O amor não cessa de alicerçar as suas garras nas sombras do amanhecer,

Há sempre um corpo em sofrimento,

Um corpo que recusa morrer,

E ser levado pelo vento,

 

(o caixão em putrefacção)

 

O amor inventa-se no jardim das palavras,

Abraça-se aos tristes pilares de areia que alimentam a paixão,

Frágeis,

Os pincéis embriagados na tela da madrugada,

O corpo liberta-se dos ossos,

Desenha na poeira o pavimento lamacento do olhar,

O corpo voa…

E não se cansa de voar.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 7 de Junho de 2015