foto de: A&M ART and Photos
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Habitas os planaltos castanhos desde que foram
construídos pelos teus olhos em flor, habitas como sombra dentro do
meu corpo, dentro do meu cubo esquelético, e dos meus olhos
triangulares sinto os ângulos obtusos entranharem-se-me como
agulhas, como serpentes de aço, barcos e caravelas enferrujadas,
velhas, caquécticas sentadas à mesa do café, pedem chá para três
e conversam sobre as marés dos orgasmos invisíveis,
A chuva, para ti, é o quê?
Um corpo húmido circula concêntrico na fogueira
dilacerante que os morcegos deixaram antes de todas as luzes se
acenderem, ouvia gritar o meu nome no espelho de um guarda-fatos de
mármore, a cama cheirava a sexo e a palha, o colchão picava os
corpos transparente que tinham sobejado do Verão minguado, havia uma
mão na tua boca, havia
A chuva, para ti, é o quê? Pedem chá para três e
conversam sobre as marés dos orgasmos invisíveis, escrevem sobre a
mesa as folhas tristes do Outono, desnudas, as árvores, abraçam-se
aos guindastes plastificados em brinquedos crianças, vêm as
lágrimas, vêm os primeiros holofotes de néon depois de partirem as
madrugadas, e os corpos, os nossos, e os deles
Apodrecem os ramos...
E os corpos amanhecer suspensos nos alfinetes do
alfaiate, as calças ficam-me pelos tornozelos, ele ri-se como se eu
fosse um boneco de palha espetado no centro do campo de trigo em
Carvalhais,
Você cresceu, amigo!
Pedem chá para três e conversam sobre as marés
dos orgasmos invisíveis, a chuva
A chuva, para ti, é o quê?
Um corpo magoado, ausente, triste e cansado, um
corpo molhado, um corpo em pura lã virgem antes de acenderem-lhe os
braços, ela sorri, encerra os olhos como um navio antes de partir,
olhava os porões... e lá longe, homens do tamanho de agulhas,
passeavam-se como abelhas de colmeia em colmeia, como velhos
De asilo em asilo,
As ovelhas brincavam sobre a erva doirada das tardes
de Primavera, no intervalo entre duas cervejas, uma delas diz-me que
se sente apaixonada pelo distinto orvalho, faço-lhe ver que o
orvalho é um gajo mal disposto, mal educado, que é um gajo
A chuva, para ti, é o quê?
E ela insiste, e ela que o amor não escolhe idade,
religião, sexo ou cor... que o amor apenas acontece, e nada mais de
que isso, e que as ovelhas são umas grandes cabras, e que as cabras,
às vezes, parecem e nunca o conseguiram ser... mulheres vestidas de
chuva, mulheres que pedem chá para três e conversam sobre as marés
dos orgasmos invisíveis, que fuma cigarros quando sentadas num banco
em granito, e que
E que caiem as folhas das árvores porque elas, as
árvores, estão tristes, porque elas, as árvores
E que ninguém quer perceber,
As árvores sinto-as vacilarem como cordéis de
neblina no centro esquerdo do cais das borboletas flutuantes, o lago
espirra, tosse, tosse... e o dióxido de carbono aloja-se nos teus
seios de incenso, como a noite, como todas as mulheres...
Pedem chá para três e conversam sobre as marés
dos orgasmos invisíveis,
A chuva, para ti, é o quê?
Gajas nuas, gajas... saltando muros em xisto.
(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 3 de Outubro de2013