Conheci uma pedra azul
com lábios de mar
tem braços de saudade
e mãos de desejo
tem boca de amar
e poemas de beijo
conheci uma pedra azul
com olhos de sonhar
(Francisco)
Conheci uma pedra azul
com lábios de mar
tem braços de saudade
e mãos de desejo
tem boca de amar
e poemas de beijo
conheci uma pedra azul
com olhos de sonhar
(Francisco)
AMO-TE
SIM, AMO-TE
DESEJO-TE
SIM, DESEJO-TE
QUERO-TE
SIM, QUERO-TE
O VENTO SÓ SERÁ O VENTO
QUANDO O TEU CABELO FOR O
VENTO
A CHUVA SÓ SERÁ A CHUVA
QUANDO A CHUVA FOR OS
TEUS OLHOS
O SOL SÓ SERÁ O SOL
QUANDO O SOL FOR O SOL
DOS TEUS LÁBIOS
O TEU CORPO SÓ SERÁ A
PRIMAVERA
QUANDO A PRIMAVERA FOR A
LUA
E O LUAR
SER O TEU CORPO
SER O MEU MAR
(Francisco – 13/04/2024)
O sofrer do amar luar
O querer ou não o ter
Não ter tempo
Não ter lugar
O sofrer do amar luar
O primeiro beijo
invisível da manhã
Bom dia meu amor
Não ter tempo nem lugar
O sofrer do amar luar
Se a noite te trouxe o desejo
Se a noite não te querer
Não ter lugar
Para viver
(Francisco – 13/04/2024)
A NOITE É UM CORPO SEM BOCA
É UMA BOCA SEM BRAÇOS,
SEM PERNAS
A NOITE É UMA BOCA, É UMA
LANTERNA
QUE AMA OUTRA BOCA
A BOCA É POUCA
E A NOITE É LOUCA
E É TÃO POUCA
EU SOU A NOITE
E NÃO TENHO CORPO
MAS SOU LOUCO
A NOITE É UM CORPO SEM
CABELO
É UMA PEDRA LAPIDADA, É
UM DIA FLORIDO
NAS MÃOS DE UMA AMADA
A NOITE É UMA SANZALA DE
BOCAS, É UM UÍSQUE QUE DURA A NOITE TODA,
QUE DESCE À NOITE,
QUE SOBE A UMA OUTRA
NOITE,
NO ENTANTO, PERCEBO QUE
ESTA NOITE PASSADA, AMEI-TE, LOUCAMENTE,
COMO NOITE.
A NOITE É UM CORPO SEM
BOCA
É UMA BOCA SEM BRAÇOS,
SEM PERNAS
A NOITE É UMA BOCA, É UMA
LANTERNA
QUE AMA OUTRA BOCA
A BOCA É POUCA
E A NOITE É LOUCA
E É TÃO POUCA
QUE AMA OUTRA LANTERNA
A NOITE É UM CORPO
SEM BOCA
(Francisco, 13/04/2024)
É este, o amor, sentido proibido da noite,
há um semáforo, está
encarnado, e o amarelo é uma vertigem, uma imagem interrompida pelas ondas do
mar.
É este, o amor, suicídio
complexo, quando o poeta corta o pulso, e em vez de sangue, há um jorro de
sílabas, estão tontas,
e apaixonadas.
Há uma vírgula que beija
loucamente um ponto de interrogação, e este, com ar de gozo,
tu me amas?
Que dirá a vírgula,
quando a única e despedida palavra
É SIM.
É este o amor, de te amar
e de me querer esconder
sobre a árvore junto ao
rio,
é este o sono, é este o
amor, miserável viver, escrever
escrever sobre o mar.
É este o amor, este
sentido proibido da noite,
milhões de vidas, para
quase meia dúzia de corpos,
e duas ou três bocas.
É este, é este o amor,
milagre invisível das flores solteiras, há uma lágrima dentro deste amor, há
uma espada que se crava a cada rotação da terra, é funda, tão funda a margem deste
rio.
(Francisco, 12/04/2024)
É quase o mar, quase gente, quase morte.
É quase luar, quase, é quase sorte
encontrar
uma lâmpada de néon no mar.
É quase Primavera, quase, quase
madrugada.
É quase tombo certo quando desço esta calçada
que é quase, é quase amanhecer
é quase morte, é quase viver.
É quase loucura,
é quase destino, quase… é quase ternura
que este jardim sente.
É quase manhã, quase… é quase tormento
no destino do vento
em ser quase gente.
(Francisco)
12/04/2024
Loucamente te amei
quase louco te amei
e fiquei.
Loucamente inventavas
na folha alumínio da minha mão
círculos
paixões.
Insónias.
Diarreia
dores
suores…
loucamente te amei
e quase louco fiquei,
no entanto, às vezes, apetece-me amar-te
novamente,
novamente louco
loucamente te amar.
(Francisco)
12/04/2024
Branca égua no silêncio acordar, salta sobre o mar a cobra com sua boca a arfar,
na sua boca semeia,
lança…
o veneno que me vai matar.
Branca égua no silêncio acordar,
que não acordará mais,
quando a este rio pertencer o lápis
e a vírgula,
a branca égua no silêncio acordar…
em despedida.
Branca égua no silêncio acordar, o sabre
que esquarteja o vento
dentro de uma pirâmide de insónia,
branca é a égua,
no alimento
e na estória.
(Francisco)
12/04/2024
Só, este corpo esquelético, este corpo apedrejado
pela noite severa, se a lua me alegra,
eu direi que não
não me alegra esta lua.
Só, este corpo de papel, este corpo de
palavras…
Que a noite devora, que a noite
inventa nas estrelas. Só, este corpo
que me entristece, neste corpo… que
emagrece.
(Francisco)
É isto a vida,
mas, que vida?
Uma vida
não vivida,
não ter onde dormir
ou comer,
é isto a vida,
esta vida de viver?
Que vida,
que rica vida…!
Dormir no carro,
abrir o vidro,
olhar as estrelas…
Que rica vida, esta vida!
(Francisco)
12/04/2024
Quem são os lírios da tua noite, quantos são, os lírios da tua noite,
Quando imagino a tua noite, uma noite
como tantas noites, um pouco diferente, da minha noite.
Como são, os lírios da tua noite, quando
a tua noite é a parte feliz da lua, e a minha noite, é a parte escura da lua.
Como se chama, cada lírio da tua noite, como
se sentam sobre o mar, cada um dos lírios da tua noite.
Quem são, quantos?
Os lírios, meu amor
da tua noite.
(Francisco
– 12/04/2024)
A cena passa-se numa esplanada.
uma mesa, quatro cadeiras,
apenas uma cadeira está desocupada,
estão sentados à mesa, um poeta, o migo
do poeta e um livro de poesia
o poeta sorri e diz; está um lindo dia.
O amigo do poeta, diz; tenho mais dias
infelizes, do que felizes, no final de cada mês,
e quanto ao livro de poesia,
folheava-se nos dedos da sombra.
A cena passa-se numa esplanada.
Um pedaço de sombra, dispara uma
espingarda,
o livro de poesia, tomba no pavimentado
chão.
O poeta, deita a mão ao peito, e exclama
baixinho: já não tenho coração.
O amigo do poeta, ao ver toda aquela
cena, levantou-se, puxou de um cigarro…
E deitou-se no chão como se fosse uma
pedra, à procura de uma mão.
Então, depois do pôr-do-sol, os três
homens levantaram-se, poisaram as mãos na algibeira,
alguém gritou;
fujam, fujam que hoje não é sexta-feira.
(Francisco)
11/04/2024
Por ti
Oiço o Oceano Pacífico online, e por ti
Deixei de ouvir a TSF,
Não sei, irrita-me.
Por ti, oiço o Oceano Pacífico online,
fecho os olhos, e sinto todo o mar dos teus olhos, a aproximar-se, dos meus
olhos.
Fechos os olhos e estou sentado no
jardim, finais de 80 e princípios de 90.
E por ti, agora, oiço
O afagar da tua voz quando os meus olhos
te olham como se fosses o único raio de sol da manhã,
No entanto,
Oiço o Oceano Pacífico online.
Por ti
Oiço,
Que direi, a cada poema que eu escrevia
no silêncio da sombra dos plátanos,
Tenho saudades, de quando me vestias de
plátano, davas-me a mão…
E só acordávamos quando a tua mãe te
perguntava
Quem era o poeta.
Por ti,
Oiço o Oceano Pacífico online…
E claro, eu só posso estar maluco
Quando o Oceano Pacífico online me traz
uma Lisboa urbana, arranjadinha, traz-me um rio, putas, traz-me o mar e a Calçada
da Ajuda.
Traz-me Belém.
Traz-me Santa Apolónia,
Santarém,
E trazia-me droga.
Oiço o Oceano Pacífico online, sou
transportado em viagem acessória,
Com pouca bagagem,
Para um outro apeadeiro, que juro, jamais
quero voltar;
E juro que rezo,
Nunca mais essa fotografia olhar.
Por ti,
Oiço…
Hoje.
O Oceano Pacífico online.
(Francisco)
11/04/2024
De ti me despeço liberto
Coberto
Por este oiro amansado,
Me desculpem… mas sinto-me muito cansado
Do cansaço de me despedir.
Despeço-me e vou partir
E vou para onde o vento me levar…
Nem que o meu último destino, seja o
mar.
De ti me despeço liberto
Na boca de um leão faminto
Libertino e sabedor do que está certo.
De ti me despeço liberto
Por ti estou neste labirinto…
Sem saber o que é correcto.
(Francisco)
11/04/2024
Imagino as palavras que os teus olhos me mentem, imagino as flores que têm nas mãos
me mentem, quando pincelam os meus
lábios de desejo.
Imagino o corpo, o teu ou o meu,
recortado em pequeninos cubos de gelo, imagino serem os teus olhos de amêndoa
um outro olhar.
Imagino o ondular do teu cabelo, em
sorrisos, em alegria, imagino as palavras que gostarias de me dizer, que nunca
as vais dizer, e
no entanto, imagino que dentro de ti,
habita uma manhã com loiros cabelos.
Imagino o cigarro a despedir-se dos meus
dedos, imagino o teu rosto
na minha janela.
Imagino esta sandes de fiambre, que me
olha, a pedir-me clemência para não a comer
Mas eu preciso de comer. Eu tenho fome.
Imagino este pacote de leite com
chocolate, que também me olha tal como a sandes de fiambre, a reclamar comigo
devido ao meu aspecto de desleixo.
Imagino as mentiras das tuas palavras,
imagino o cosmos à procura de Deus, e Deus, a cagar para o assunto. Imagino o
poeta, deitado sobre a cama, a construir
barcos em papel.
Imagino o sol, imagino a lua, nas mãos
de uma criança…
Imagino as palavras que os teus olhos me
mentem, imagino as flores que têm nas mãos
me mentem, quando pincelam os meus
lábios de desejo
e um comboio assobia no meu peito!
(Francisco
– 11/04/2024)
O vento rasga os pratos despidos e poisados sobre a mesa, o vento traz as bocas famintas
à noite que deixou de ser
noite, e agora é apenas um pedaço de papel rasgado.
O vento obriga as bocas
famintas a prostituírem-se no apeadeiro das estrelas, acreditando
que o vento é um sacana,
que o vento é uma lâmina de sémen que perfura a madrugada, que lança
ao mar,
a saudade.
O vento é a tempestade do
teu cabelo, e atira contra a janela de onde se vê o mar, as sementes da seara.
O mar é os teus braços, e
as ondas do mar, são as tuas mãos de silêncio, que se envergonham com os meus
olhos, quando acorda a manhã.
O vento é o sono. O vento
é a Primavera clandestina dos teus lábios, se o cortinado da janela de onde se
vê o mar, o deixar. No entanto
o vento
será sempre um sacana
para o teu cabelo.
O vento poderá sempre
mentir-me, mas quanto à noite, essa não é de mentiras…
Esta noite, a noite
disse-me que sonhaste comigo!
(11/04/2024 / Francisco)
Já não te conheço dentro deste círculo de sono, já não te conheço
na tarde miserável que
desce a avenida. Lençóis de prata enrolam-se ao teu pescoço
na tua boca,
uma ausência, uma mentira
nos teus lábios.
Uma ânsia. Já não
te conheço dentro deste
círculo de sono, e são os peixes que a visitam, todas as tardes,
este mergulho nas fragas
que só a noite consegue alimentar,
que morra a ciência de
calcular o perímetro do círculo, da tua insónia.
Se é que existe insónia
nos teus lábios, que não acredito que exista, porque apenas os poetas sabem desenhar
a insónia na vagina da lua. Toca o sino, talvez alguém tenha decidido partir,
ir
até ao sono definitivo da
vida.
Não me importava, também,
de partir
de ir
Ir. Já não te conheço
dentro deste círculo cansado de rodar em torno dos teus seios, até que alguém
lhes grites, e lhes diga
Ir.
E eles foram.
Já não te conheço dentro
deste triste e ausente círculo de sono, viciado em circunferências, e afins
E pequenas drageias que
te enganam o sono.
Faço um cigarro, fumo-o,
ergo-me e em silenciosos círculos, vou à tua procura. Subo as escadas até à
primeira estrela, não estás lá.
Vou à segunda estrela,
não estás lá.
Corro mais um pouco, e
vou à terceira estrela, fico à porta, e penso
tu só estás quando é noite,
e ainda está de dia.
Já não te conheço à
janela onde poisas as mãos, já não te conheço dentro deste círculo de sono,
dentro desta área indefinida, formatada por bites e bites de desejo.
Já não te conheço dentro
deste disco rígido, já não te conheço que te conheço,
porque habitas dentro
deste portátil; que tão bem conheço.
Já não te conheço,
E tenho medo de que me
digam…
Que te conheço.
Já não te conheço dentro
deste círculo de sono, já não te conheço
na tarde miserável que
desce a avenida. Lençóis de prata enrolam-se ao teu pescoço
na tua boca,
uma ausência, uma mentira
nos teus lábios,
que eu tão bem conheço.
(Francisco – 10/04/2024)
Meu amor!
Se é que eu posso
tratar-te por meu amor, ou por minha queria ou por minha flor, ou por meu
perfume…
Desenhei os versos da tua
noite, na minha noite, embalado no mortífero desejo de te abraçar, quando tu,
não passas de uma árvore frágil e dócil. Se é que eu posso tratar-te por meu
perfume, juntinho à fogueira dos meus livros, juntinho à tinta derramada pelos
meus dedos.
Meu amor!
As palavras são rosas e
as vírgulas, são espinhos; por isso te envio tantas rosas!
Dizer-te que te amo e que
não acredito que um dia me ofereças algumas das tuas rosas, porque o silêncio é
a tua voz...
Dizer-te que um dia,
quando leres esta carta, não existirá mais Primavera, tão pouco flores, tão
pouco eu…
Meu amor!
Se é que eu posso
tratar-te desta forma, dizer-te que a noite é um desejo de ver-te pincelada nos
meus olhos, mas não passa de um desejo, tão pouco apareces pincelada nos meus
olhos.
Esta noite vi um tigre a
brincar com o teu cabelo de sono, algum tempo depois, o teu cabelo de sono e o tigre,
dormiam, profundamente na minha mão.
Dizer-te que o café que
tiro às seis da manhã, quando acordo, às vezes está amargo, às vezes, está
zangado
Por eu te amar, minha
doce Primavera.
(10/04/2024 / Francisco)
Saboreia o teu primeiro beijo olhar, bebe o teu primeiro café ensonado, como tu, embrulhado durante a noite na manta da insónia.
Saboreia o primeiro raio
de luz, a primeira décima centígrada da manhã,
Saboreia o silêncio dos
plátanos, e saboreia
O perfume dos meus olhos.
Saboreia o cigarro em
cio, que ao acordar fode o meu pulmão, e depois oiço-lhe os gemidos de prazer
Saboreia o livro que
estás a ler,
Não sabendo eu se gostas
de ler ou se sabes ler…
Saboreia o cinzento dia,
saboreia o banco de jardim onde te sentavas a escrever poesia
E depois ficavas entretida
a lançá-la ao mar e a quem passava;
Que giro, ver as pessoas
embriagadas de poesia.
Saboreia o ano de mil
novecentos e noventa, saboreia a procissão e os anjinhos, saboreia as flores, e
as minhas mãos
Acabadinhas de acordar. Saboreia
O mar
E a lua
E o luar.
Saboreia a infância de
uma árvore, quando criança, como as árvores, estão apaixonadas pelo silêncio.
Saboreia que eu queira
saborear, uma réstia de pétala, um pedacinho dos teus lábios
Sitiados nos meus lábios.
Saboreia o espaço e a luz
e a escuridão, saboreia o cofre onde guardas o teu coração, saboreia
Os versos e os restantes
minutos que faltam para eu morrer.
Saboreia o meu esqueleto,
quase invisível, quase água, e desajeitado como barcaça, que atravessa o mar do
teu corpo. Saboreia o desejo de eu me sentar naquele fino fio de nylon, que
atravessa a tua boca
Saboreia em quantas
partes se divide o corpo, e se multiplica o poema. Saboreia a fome que um poema
pode causar no olhar de um poeta, ou nas mãos de sua amada.
Saboreia a tarde,
Saboreia a madrugada…
(10/04/2024 / Francisco)
Se me sento
durmo sobre os teus
seios. Se me sento e trago comigo a
insónia da noite anterior, que já morreu por hoje, que voltará logo, ressuscitada,
como uma flor nos lábios da madrugada.
Se me sento
Durmo na tua boca
Aqui; o que faço eu nos teus olhos!
Se me sento
durmo
sobre os teus lábios, visto-me de
invisível poema e leio-me aos teus olhos aquilo que a noite deixou no meu
coração. Pincelado, sejas, cansaço colorido nas mãos do mar.
O que faço, se me sentar e dormir no teu
cabelo…; que este dia seja o dia mais lindo dos teus olhos…
(Francisco
10/04/2024)