Saboreia o teu primeiro beijo olhar, bebe o teu primeiro café ensonado, como tu, embrulhado durante a noite na manta da insónia.
Saboreia o primeiro raio
de luz, a primeira décima centígrada da manhã,
Saboreia o silêncio dos
plátanos, e saboreia
O perfume dos meus olhos.
Saboreia o cigarro em
cio, que ao acordar fode o meu pulmão, e depois oiço-lhe os gemidos de prazer
Saboreia o livro que
estás a ler,
Não sabendo eu se gostas
de ler ou se sabes ler…
Saboreia o cinzento dia,
saboreia o banco de jardim onde te sentavas a escrever poesia
E depois ficavas entretida
a lançá-la ao mar e a quem passava;
Que giro, ver as pessoas
embriagadas de poesia.
Saboreia o ano de mil
novecentos e noventa, saboreia a procissão e os anjinhos, saboreia as flores, e
as minhas mãos
Acabadinhas de acordar. Saboreia
O mar
E a lua
E o luar.
Saboreia a infância de
uma árvore, quando criança, como as árvores, estão apaixonadas pelo silêncio.
Saboreia que eu queira
saborear, uma réstia de pétala, um pedacinho dos teus lábios
Sitiados nos meus lábios.
Saboreia o espaço e a luz
e a escuridão, saboreia o cofre onde guardas o teu coração, saboreia
Os versos e os restantes
minutos que faltam para eu morrer.
Saboreia o meu esqueleto,
quase invisível, quase água, e desajeitado como barcaça, que atravessa o mar do
teu corpo. Saboreia o desejo de eu me sentar naquele fino fio de nylon, que
atravessa a tua boca
Saboreia em quantas
partes se divide o corpo, e se multiplica o poema. Saboreia a fome que um poema
pode causar no olhar de um poeta, ou nas mãos de sua amada.
Saboreia a tarde,
Saboreia a madrugada…
(10/04/2024 / Francisco)
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