Já não te conheço dentro deste círculo de sono, já não te conheço
na tarde miserável que
desce a avenida. Lençóis de prata enrolam-se ao teu pescoço
na tua boca,
uma ausência, uma mentira
nos teus lábios.
Uma ânsia. Já não
te conheço dentro deste
círculo de sono, e são os peixes que a visitam, todas as tardes,
este mergulho nas fragas
que só a noite consegue alimentar,
que morra a ciência de
calcular o perímetro do círculo, da tua insónia.
Se é que existe insónia
nos teus lábios, que não acredito que exista, porque apenas os poetas sabem desenhar
a insónia na vagina da lua. Toca o sino, talvez alguém tenha decidido partir,
ir
até ao sono definitivo da
vida.
Não me importava, também,
de partir
de ir
Ir. Já não te conheço
dentro deste círculo cansado de rodar em torno dos teus seios, até que alguém
lhes grites, e lhes diga
Ir.
E eles foram.
Já não te conheço dentro
deste triste e ausente círculo de sono, viciado em circunferências, e afins
E pequenas drageias que
te enganam o sono.
Faço um cigarro, fumo-o,
ergo-me e em silenciosos círculos, vou à tua procura. Subo as escadas até à
primeira estrela, não estás lá.
Vou à segunda estrela,
não estás lá.
Corro mais um pouco, e
vou à terceira estrela, fico à porta, e penso
tu só estás quando é noite,
e ainda está de dia.
Já não te conheço à
janela onde poisas as mãos, já não te conheço dentro deste círculo de sono,
dentro desta área indefinida, formatada por bites e bites de desejo.
Já não te conheço dentro
deste disco rígido, já não te conheço que te conheço,
porque habitas dentro
deste portátil; que tão bem conheço.
Já não te conheço,
E tenho medo de que me
digam…
Que te conheço.
Já não te conheço dentro
deste círculo de sono, já não te conheço
na tarde miserável que
desce a avenida. Lençóis de prata enrolam-se ao teu pescoço
na tua boca,
uma ausência, uma mentira
nos teus lábios,
que eu tão bem conheço.
(Francisco – 10/04/2024)
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