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quinta-feira, 11 de abril de 2024

As palavras que os teus olhos me mentem

Imagino as palavras que os teus olhos me mentem, imagino as flores que têm nas mãos

me mentem, quando pincelam os meus lábios de desejo.

Imagino o corpo, o teu ou o meu, recortado em pequeninos cubos de gelo, imagino serem os teus olhos de amêndoa

um outro olhar.

 

Imagino o ondular do teu cabelo, em sorrisos, em alegria, imagino as palavras que gostarias de me dizer, que nunca as vais dizer, e

no entanto, imagino que dentro de ti, habita uma manhã com loiros cabelos.

Imagino o cigarro a despedir-se dos meus dedos, imagino o teu rosto

na minha janela.

 

Imagino esta sandes de fiambre, que me olha, a pedir-me clemência para não a comer

Mas eu preciso de comer. Eu tenho fome.

Imagino este pacote de leite com chocolate, que também me olha tal como a sandes de fiambre, a reclamar comigo

devido ao meu aspecto de desleixo.

 

Imagino as mentiras das tuas palavras, imagino o cosmos à procura de Deus, e Deus, a cagar para o assunto. Imagino o

poeta, deitado sobre a cama, a construir barcos em papel.

Imagino o sol, imagino a lua, nas mãos de uma criança…

 

Imagino as palavras que os teus olhos me mentem, imagino as flores que têm nas mãos

me mentem, quando pincelam os meus lábios de desejo

 

e um comboio assobia no meu peito!

 

 

(Francisco – 11/04/2024)

O vento

O vento rasga os pratos despidos e poisados sobre a mesa, o vento traz as bocas famintas

à noite que deixou de ser noite, e agora é apenas um pedaço de papel rasgado.

O vento obriga as bocas famintas a prostituírem-se no apeadeiro das estrelas, acreditando

que o vento é um sacana, que o vento é uma lâmina de sémen que perfura a madrugada, que lança

ao mar,

a saudade.

 

O vento é a tempestade do teu cabelo, e atira contra a janela de onde se vê o mar, as sementes da seara.

O mar é os teus braços, e as ondas do mar, são as tuas mãos de silêncio, que se envergonham com os meus olhos, quando acorda a manhã.

 

O vento é o sono. O vento é a Primavera clandestina dos teus lábios, se o cortinado da janela de onde se vê o mar, o deixar. No entanto

o vento

será sempre um sacana para o teu cabelo.

 

O vento poderá sempre mentir-me, mas quanto à noite, essa não é de mentiras…

Esta noite, a noite disse-me que sonhaste comigo!

 

 

(11/04/2024 / Francisco)

quarta-feira, 10 de abril de 2024

Já não te conheço

Já não te conheço dentro deste círculo de sono, já não te conheço

na tarde miserável que desce a avenida. Lençóis de prata enrolam-se ao teu pescoço

na tua boca,

uma ausência, uma mentira nos teus lábios.

 

Uma ânsia. Já não

te conheço dentro deste círculo de sono, e são os peixes que a visitam, todas as tardes,

este mergulho nas fragas que só a noite consegue alimentar,

que morra a ciência de calcular o perímetro do círculo, da tua insónia.

 

Se é que existe insónia nos teus lábios, que não acredito que exista, porque apenas os poetas sabem desenhar a insónia na vagina da lua. Toca o sino, talvez alguém tenha decidido partir, ir

até ao sono definitivo da vida.

Não me importava, também, de partir

de ir

Ir. Já não te conheço dentro deste círculo cansado de rodar em torno dos teus seios, até que alguém lhes grites, e lhes diga

Ir.

 

E eles foram.

Já não te conheço dentro deste triste e ausente círculo de sono, viciado em circunferências, e afins

E pequenas drageias que te enganam o sono.

Faço um cigarro, fumo-o, ergo-me e em silenciosos círculos, vou à tua procura. Subo as escadas até à primeira estrela, não estás lá.

Vou à segunda estrela, não estás lá.

Corro mais um pouco, e vou à terceira estrela, fico à porta, e penso

tu só estás quando é noite, e ainda está de dia.

 

Já não te conheço à janela onde poisas as mãos, já não te conheço dentro deste círculo de sono, dentro desta área indefinida, formatada por bites e bites de desejo.

Já não te conheço dentro deste disco rígido, já não te conheço que te conheço,

porque habitas dentro deste portátil; que tão bem conheço.

Já não te conheço,

E tenho medo de que me digam…

Que te conheço.

 

Já não te conheço dentro deste círculo de sono, já não te conheço

na tarde miserável que desce a avenida. Lençóis de prata enrolam-se ao teu pescoço

na tua boca,

uma ausência, uma mentira nos teus lábios,

que eu tão bem conheço.

 

(Francisco – 10/04/2024)

Carta de amor à Primavera

Meu amor!

Se é que eu posso tratar-te por meu amor, ou por minha queria ou por minha flor, ou por meu perfume…

Desenhei os versos da tua noite, na minha noite, embalado no mortífero desejo de te abraçar, quando tu, não passas de uma árvore frágil e dócil. Se é que eu posso tratar-te por meu perfume, juntinho à fogueira dos meus livros, juntinho à tinta derramada pelos meus dedos.

Meu amor!

As palavras são rosas e as vírgulas, são espinhos; por isso te envio tantas rosas!

Dizer-te que te amo e que não acredito que um dia me ofereças algumas das tuas rosas, porque o silêncio é a tua voz...

Dizer-te que um dia, quando leres esta carta, não existirá mais Primavera, tão pouco flores, tão pouco eu…

Meu amor!

Se é que eu posso tratar-te desta forma, dizer-te que a noite é um desejo de ver-te pincelada nos meus olhos, mas não passa de um desejo, tão pouco apareces pincelada nos meus olhos.

Esta noite vi um tigre a brincar com o teu cabelo de sono, algum tempo depois, o teu cabelo de sono e o tigre, dormiam, profundamente na minha mão.

Dizer-te que o café que tiro às seis da manhã, quando acordo, às vezes está amargo, às vezes, está zangado

Por eu te amar, minha doce Primavera.

 

 

(10/04/2024 / Francisco)

Madrugada

Saboreia o teu primeiro beijo olhar, bebe o teu primeiro café ensonado, como tu, embrulhado durante a noite na manta da insónia.

Saboreia o primeiro raio de luz, a primeira décima centígrada da manhã,

Saboreia o silêncio dos plátanos, e saboreia

O perfume dos meus olhos.

 

Saboreia o cigarro em cio, que ao acordar fode o meu pulmão, e depois oiço-lhe os gemidos de prazer

Saboreia o livro que estás a ler,

Não sabendo eu se gostas de ler ou se sabes ler…

Saboreia o cinzento dia, saboreia o banco de jardim onde te sentavas a escrever poesia

E depois ficavas entretida a lançá-la ao mar e a quem passava;

Que giro, ver as pessoas embriagadas de poesia.

 

Saboreia o ano de mil novecentos e noventa, saboreia a procissão e os anjinhos, saboreia as flores, e as minhas mãos

Acabadinhas de acordar. Saboreia

O mar

E a lua

E o luar.

Saboreia a infância de uma árvore, quando criança, como as árvores, estão apaixonadas pelo silêncio.

 

Saboreia que eu queira saborear, uma réstia de pétala, um pedacinho dos teus lábios

Sitiados nos meus lábios.

Saboreia o espaço e a luz e a escuridão, saboreia o cofre onde guardas o teu coração, saboreia

Os versos e os restantes minutos que faltam para eu morrer.

 

Saboreia o meu esqueleto, quase invisível, quase água, e desajeitado como barcaça, que atravessa o mar do teu corpo. Saboreia o desejo de eu me sentar naquele fino fio de nylon, que atravessa a tua boca

Saboreia em quantas partes se divide o corpo, e se multiplica o poema. Saboreia a fome que um poema pode causar no olhar de um poeta, ou nas mãos de sua amada.

Saboreia a tarde,

Saboreia a madrugada…

 

 

(10/04/2024 / Francisco)

Se me sento

Se me sento

durmo sobre os teus

seios. Se me sento e trago comigo a insónia da noite anterior, que já morreu por hoje, que voltará logo, ressuscitada, como uma flor nos lábios da madrugada.

 

Se me sento

Durmo na tua boca

Aqui; o que faço eu nos teus olhos!

 

Se me sento

durmo

sobre os teus lábios, visto-me de invisível poema e leio-me aos teus olhos aquilo que a noite deixou no meu coração. Pincelado, sejas, cansaço colorido nas mãos do mar.

 

O que faço, se me sentar e dormir no teu cabelo…; que este dia seja o dia mais lindo dos teus olhos…

 

(Francisco

10/04/2024)

Abstracto buraco, aos ouvidos do mar

(à fã número um deste blogue…!)

Sítio

abstracto buraco, aos ouvidos do mar, percebe-se que amo

amo qualquer coisa estranha, mundana, indefinida pelo tempo.

Mísera flor quando dança no rosto da abelha o exemplar momento de amar; Moisés, perde-se de amores por qualquer coisa, estranha.

 

Estranha será a manhã, será um pedaço de pão com manteiga, sítio, poderia ser de pedra, mas quis Deus que o abraço fosse de mar.

O mar.

O amar.

O sítio teu cabelo que me diz que dentro do meu coração apenas existe um pequeno fundo de maneio, composto por algumas palavras, outras palavras, o mar, o amar, quando a lua se senta sobre o sol, quando os pássaros escrevem na areia;

Amo-te.

 

Outro sítio de onde venho e de onde trago,

mínguas manhãs que transportam nos braços, maçãs, fruta de engano

este sítio onde habito,

neste sítio onde me afogo. A pedra é comida pelas formigas comunistas obrigadas a plantar cardos sobre o mar; amei a flor do teu cabelo, hoje.

 

Amei este cardo, odeio este mar, semeado sobre ele a tristeza, nunca acreditei, e agora acredito, que amei uma pedra, uma pedra tão bela, que as manhãs são papoilas junto ao rio. GREVE.

Mútua equação são os teus seios…

 

 

(Francisco

10/04/2024)

Um coitado em silêncios beijos

As avenidas da solidão

que desço depois do pequeno-almoço

olho-me quando entram em mim as flores do Inverno

e as tempestades que a noite putrificou dentro das esquinas complexas minhas mãos

olho-me

sentado

inerte

morto

um coitado

que passeia na tarde os murmúrios em ácidos cansaços beijos

ele descobre que o amor vive na escuridão das palavras

derretidas no açúcar invisível dos relógios de pulso.

 

Silêncios beijos

os teus

sobre a impune geada das terras áridas transmontanas

a lareira morre na insónia tua boca

os desejos longínquos suspensos no tecto do prazer

prometendo números de circo

debaixo das árvores abandonadas pelas desertas esplanadas da madrugada

olho-me

sentado

inerte

morto

um coitado,

 

e não tens vergonha dos meus lábios de algodão

semeados na planície ínfima que a vida constrói

em cordões de sémen quando os vãos de escada descem às catacumbas dos sexos

magoados nas cansadas flores do Inverno

as estrelas

as flores

o inferno

vêm dos distantes cais dos barcos de papel

silêncios beijos

os teus

os nossos corpos em decomposição

amam-se e desejam-se e no húmido pergaminho se transformam em poema.

 

(Francisco)

terça-feira, 9 de abril de 2024

Poço das estórias

O corpo é uma voz que habita dentro do poço das estórias

são memórias, são espinhos que no coração de uma pedra

brincam, e morrem

como pássaros ao meio-dia.

O corpo ergue-se veloz

até ao céu até à

morte

que brevemente vem. O corpo tomba na sifilítica tarde mais parecendo um amontoado de cortinados,

desgovernados em direcção ao meu caixão; sou agora feliz porque estou morto. Amo e sou amado!

 

O corpo é um arado, é uma enxada que se crava na rocha, e ilumina o sol de púrpura maçã embriagada pela insónia. O corpo suga a água do rio, assobia

como pássaros à procura de sexo, à procura de confusão

no meio da rua, no centro da cidade, pertinho da lua.

 

O corpo é voz quebrada, que dentro do poço das estórias escreve os primeiros capítulos da infância: escuta, tenho aqui dois pedacinhos de chocolate para ti!

O corpo sofre. O corpo voa. O corpo nada sabe de poesia, de literatura ou de amar ou de chorar

o corpo emagrece,

e fica fino como um fio.

e fica furioso como um rio

Com lágrimas de pôr-do-sol…

E se ele acordar,

digam-lhe que o corpo é uma lápide de vergonha,

é um barco na eira,

o corpo é a luz daquela triste ribeira

que um dia vai dormir ao mar.

 

(Francisco)

entre parêntesis

o peso do corpo

quando o corpo se ausenta da realidade

a morte vulcânica do sentido proibido da vida

os tristes pássaros empoleirados nas avenidas sem destino

a lucidez do alpendre da solidão

caminhando calçada abaixo

os ossos

o pó dos ossos

manchado nos camuflados risos da manhã

ao teu lado

oiço amo-te

ao teu lado

oiço-te desejo-te

mas a madrugada roubou-nos o desejo

tenho uma estrada abandonada

nos abismos da madrugada

o silêncio enraizado na melancolia do suor teu corpo

a alegria

sentindo a solidão dos obscenos corpos de nata

há-de viver em mim a mulher desenhada nos espiões da noite

o amanhecer morre no ínfimo acreditar da noite

tenho sono

meu amor

amanhã viverei no teu corpo

amanhã sentirei o teu corpo

fatias finas

papel amargurado

nas algibeiras dos corpos suicidados

a morte

os amigos da morte

na ambição do sonífero sonolento

hesito

morro

neste barco de sentinelas amordaçadas

o tempo

sempre ausente de ti

enigmático coração de vidro

sofro

deixo-me sofrer pelos teus lábios

os beijos

o comboio em direcção ao nada

transeuntes acabrunhados

que só o vento desenlaça na porta de uma casa de alterne

o medo da morte

a embriaguez dos rostos maltratados

que os livros comem ao pequeno-almoço

são horas de partir

meu amor

a ausência do cachimbo oco que habita a minha mão

a ausência do olhar

correndo em redor do mar

a cerveja quente o uísque alicerçado às minhas costas

fumam

comem cigarros livros de papel fumado

a noite é um corrupio sonolento da alma

amei-te

quebrado nas montanhas da solidão

este magro corpo acordado do sono

este magro sono acordado no magro corpo

gosto de ti

dos teus olhos vestidos de noite

entre parêntesis

snob

sono da alegria de morrer

 

 

(Francisco)

Não sei como te dizer

Não sei como te dizer, o que te dizer, sabendo eu que nada te posso dizer. Não sei

como apelidar esta tela, turbulenta e escura, cinzenta e pura

como te dizer,

nada te dizer.

 

Não sei como te dizer, dizer-te que tenho um beijo para

te dar,

e tenho medo de o fazer

medo deste mar.

 

Não sei como te dizer, o que te dizer, sabendo eu que nada te

posso dizer

o que te dizer,

que o meu amar é um pedaço de terra,

é um socalco que pincela o rio,

Não sei como te dizer,

O que te dizer.

 

Dizer-te.

 

(Francisco)

A cidade proibida

Caminho sobre a cidade em construção

deito-me na ponte do desejo

e acaricio os prédios em ruínas

as ruas de sílaba em sílaba

debaixo das árvores de papel

a cidade

a caminho do infinito

na desordem de acordar

 

E frio

nas sílabas de sílabas das sílabas

da tua boca engasgada nas palavras proibidas

e frio do silêncio das flores de cetim

em busca de um abraço

à procura de um beijo

 

A caminhar

sobre o vento em construção

a cidade

a cidade invisível à janela da tua boca

e frio

nas sílabas

em flores de cetim

a cidade proibida

 

(Francisco)

as sílabas do teu olhar

amar-te

dentro das palavras

que me roubam as sílabas do teu olhar

amar-te

sem saber como o dizer

ou escrever

amar-te

dentro das palavras

e ouvir da tua voz

os silêncios do amanhecer

 

(Francisco)

Caravelas

Regressam as caravelas aos teus lábios cidade adormecida

na madrugada fundeada nas amarras do silêncio

há nas tuas poucas palavras

palavras

encantos

que fazem sorrir as caravelas.

 

Regressam a ti de longe as minhas mãos guiadas pelo vento

dos suspiros que fingem espelhos de ternura

há nas tuas palavras

palavras

dor

amargura.

 

(Francisco)

segunda-feira, 8 de abril de 2024

Coisa estranha

Tanta falta me fazes

tanto me fazes em meu viver

tanta falta me fazes

enquanto procuro as flores do teu cabelo.

 

Tanta falta me fazes

em meu escrever

em meu ter

no meu ler…

não tendo eu nada para te escrever…

tanta falta me fazes

que não sei como viver.

 

Tanta falta me fazes

Quando a noite é uma coisa estranha

Que se entranha

No meu coração

Tanta falta me faz

A falta da tua mão.

 

 

(08/04/2024)

Azuis lábios

Azuis lábios

em mar de incenso

azuis nuvens de areia

suspensas no silêncio

azuis

azuis moinhos de vento

quando brincam na alvorada

azuis os amores de Primavera

em finíssimos cristais de seda

azuis lábios

beijos que constroem

manhãs em desejo

 

(Francisco)

Branqui luz

Quero no teu corpo cor de branqui luz

escrever o mais belo poema de amor,

começo por falar do mar

e das pedras onde te sentas,

dos livros que adormeceram nas tuas mãos

os pincéis da tinta,

as telas,

as pedras que pisas ao caminhar…

Falo do teu sorriso que me encanta

do teu olhar que me faz sonhar

falo dos rios que correm

das ribeiras que correm para os rios,

e… que acabam por adormecer no mar.

Quero no teu corpo cor de branqui luz

escrever o mais belo poema de amor,

com melodia e movimento

como água fresca

que banha o teu corpo,

aproveitar cada pedacinho

e nunca, nunca te magoar,

pegar no teu cabelo que me encanta

e enrolar os meus dedos,

como se fossem algas, nenúfares…

Cansar-me de tanto escrever

e adormecer no teu peito,

embriagar-me nas tuas coxas,

quero no teu corpo cor de branqui luz

escrever o mais belo poema de amor,

sem medo

e pronto para tudo te dar,

querer que tu me queiras amar

e que me digas baixinho, ao meu ouvido,

no silêncio da madrugada orvalhada

infinito que nos aproxima,

quero que me digas que me amas

que sou o teu mar

a tua alegria,

quero que tu sejas a mulher mais importante do universo,

superior a Deus…

Quero no teu corpo cor de branqui luz

escrever o mais belo poema de amor…

 

(Francisco)


Tempo

 

Não tenho tempo
Nem pressa que regresse o tempo
Não tenho pressa do tempo
Tão pouco que as palavras do tempo
Morram nas mãos do vento
Sem tempo.

Não tenho pressa
Nem tempo antes da pressa
Que no poema nasça e cresça
O delírio da loucura
Que entre tempos
O de ontem
E o de amanhã
Me venham dizer
Olhe… desculpe…
Não tivemos tempo
Não tenha o senhor pressa!

E se o tempo me convidar
Se eu tiver tempo
E não tiver pressa…
Talvez
Talvez amanhã consiga respirar
Talvez amanhã eu tenha tempo
Todo o tempo
O tempo de te amar.

 

(Francisco)

A tua mão

Enquanto tudo arde,

Sento-me e pego na tua mão,

Enquanto a noite cai sobre ti

Semeio as minhas palavras no teu corpo,

Ergo a voz a Deus,

E percebo que brevemente vou voar,

 

Percebo que estou vivo,

Respiro,

Amo,

Enquanto tudo arde,

Trago a mim aquele rio de saudade,

Trago a mim os teus olhos em maré…

 

Enquanto tudo arde,

Sento-me e pego na tua mão,

Sento-me nesta pedra cinzenta,

Sem medo de partir,

Sem medo de viver…

Enquanto tudo arde,

 

Pincelo a manhã de púrpura paixão

Como se fosse a minha última manhã…

Como se fosse o adeus às palavras escritas,

Enquanto tudo arde,

Sento-me e pego na tua mão,

Sento-me… e olho-te junto ao mar.

 

(Francisco)

domingo, 7 de abril de 2024

O que dizer-te, quando a tua noite e quando o teu dia são o sofrimento disfarçado de lua e disfarçado de sol.

O que dizer-te, quando a única coisa que te posso dizer…

É nada dizer-te

ou dizer-te;

estou aqui!

 

(Francisco)