O corpo é uma voz que habita dentro do poço das estórias
são memórias, são espinhos que no
coração de uma pedra
brincam, e morrem
como pássaros ao meio-dia.
O corpo ergue-se veloz
até ao céu até à
morte
que brevemente vem. O corpo tomba na sifilítica
tarde mais parecendo um amontoado de cortinados,
desgovernados em direcção ao meu caixão;
sou agora feliz porque estou morto. Amo e sou amado!
O corpo é um arado, é uma enxada que se
crava na rocha, e ilumina o sol de púrpura maçã embriagada pela insónia. O corpo
suga a água do rio, assobia
como pássaros à procura de sexo, à
procura de confusão
no meio da rua, no centro da cidade,
pertinho da lua.
O corpo é voz quebrada, que dentro do
poço das estórias escreve os primeiros capítulos da infância: escuta, tenho aqui
dois pedacinhos de chocolate para ti!
O corpo sofre. O corpo voa. O corpo nada
sabe de poesia, de literatura ou de amar ou de chorar
o corpo emagrece,
e fica fino como um fio.
e fica furioso como um rio
Com lágrimas de pôr-do-sol…
E se ele acordar,
digam-lhe que o corpo é uma lápide de
vergonha,
é um barco na eira,
o corpo é a luz daquela triste ribeira
que um dia vai dormir ao mar.
(Francisco)
Sem comentários:
Enviar um comentário