sábado, 1 de janeiro de 2022

Os dias, pouco

 

Os dias imaginados por um louco,

Dentro de um cubo de vidro,

Dançando um pouco,

Um pouco e um livro.

 

Os dias pouco,

De um livro louco,

Deste corpo touco,

Neste corpo trôpego.

 

Os dias lançados ao vento,

Quando acorda a madrugada;

Dos dias de sofrimento,

 

Nos dias sem alvorada.

E, se não fosse minha amada…

Tudo era uma grande trapalhada.

 

 

Francisco Luís Fontinha

01/01/2022

segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

O desejo é uma equação de sono

 

O desejo é uma equação de sono, é um silêncio esquecido na almofada, é poema vandalizado pela solidão, o desejo costuma viajar em primeira classe, é pertença do Universo; desejar e, ser desejado.

O desejo sente-se, apalpa-se como um seio seminu dançando sobre o mar, o desejo escreve-se, ergue-se cedo, o desejo suicida-se, por vezes, num leito adormecido, o desejo percebe as sombras nocturnas de um outro desejo, o desejo é desejar, é correr, é amar, o desejo espelha-se na madrugada, vai à janela e, fuma o seu primeiro cigarro.

O desejo é livro de poesia, é mulher sentada, de perna cruzada, o desejo pinta-se, o desejo afoga-se, às vezes, na boca de um beijo. O desejo é maldito, o desejo é sacerdote, é religião, é engenheiro, é poeta, o desejo vê-se quando chove, porque os pássaros também são o desejo; o desejo de voar.

O desejo sobe a montanha, procura o primeiro abrigo e, deita-se. Fuma o primeiro charro, escreve no chão o poema envenenado que ficou em cima da mesinha-de-cabeceira, era ontem, hoje, hoje não desejo

Desejar que ele ou ela o deseje.

Ouvem-se as manhãs embalsamadas junto ao rio, os barcos veleiros procuram o desejo, o vento que os leve para a cama do desejo, há canções de revolta, há silêncios presidiários nas mãos do desejado e, as coxas fluem como brasas suspensas na fogueira, há um pequeno gemido, um pequeno latido e,

O mar entra dentro dela, absorve-a, come-a.

E de tantos desejados, há um poema livre, revoltado, há um poema em cada milímetro de espuma do teu corpo, sabendo que o teu corpo desejado, apenas pertence ao teu desejo. Desejas que te desejem; antes de adormecer, três pequenas drageias de sono, dois gramas de uivos, três pilhas e um cobertor,

Há mais desejo, amanhã, porque hoje a noite é de tempestade.

O desejo é uma equação de sono, é um silêncio esquecido na almofada, é poema vandalizado pela solidão, o desejo costuma viajar em primeira classe, é pertença do Universo; desejar e, ser desejado, o desejo é uma pobre canção, melodia da madrugada, o desejo é opção, é palavra cansada, o desejo, às vezes, perde-se no leito da alvorada.

O desejo, sempre que desejado, é uma equação de sono, é pássaro, é flor que voa sobre o chão; sobre o chão desejado.

 

 

 

 

Alijó, 27/12/2021

Francisco Luís Fontinha

Os pássaros

 

Estes velhos pássaros,

Parvos e sós,

Que deambulam dentro de mim,

São palavras, são canções,

São flores do meu jardim.

 

Estes velhos pássaros,

Verdadeiros e, de voar,

São poemas de amar,

São desejo,

São noites de embalar.

 

Estes velhos pássaros,

Companheiros de dormir,

Espingarda de disparar,

Estes velhos pássaros,

São os pássaros com quem eu posso falar.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 27/12/2021