segunda-feira, 6 de novembro de 2017
Tulipas anónimas
As minhas tulipas são anónimas.
Acordo ao som dos seus delas gemidos,
Entre parêntesis e pontos de interrogação,
A lapidação do meu corpo ao amanhecer,
O perfumado banho,
Antes de comer,
As minhas tulipas são ardósias.
Todas as palavras são assassinadas nas suas delas bocas,
Como se fossem nuvens esfomeadas,
Canibais canetas de tinta permanente,
Poisadas sobre a minha lápide invisível,
Todas as palavras me detestam,
Todas as palavras me agridem ao anoitecer,
Como correntes em aço que brincam na rua.
O espelho desfigurado,
Os lençóis emagrecidos pela geada,
O cansaço meu desperdiçado nas ombreiras do mar,
O sangue dorme. O meu corpo é uma jangada de vidro…
Perdido no cais da saudade,
Tenho medo das encostas da montanha,
Que assobiam a todos os minutos passados,
Que vão passar e todos aqueles que não passam,
Porque habito num apeadeiro selvagem,
Doente.
As minhas tulipas são anónimas…
E o meu jardim em papel amarrotado.
Francisco Luís Fontinha
domingo, 5 de novembro de 2017
sábado, 4 de novembro de 2017
terça-feira, 31 de outubro de 2017
O silêncio do imperfeito
Perfeito.
Imperfeito.
O silêncio
mutante da escuridão,
Quando desce
da montanha uma pobre canção,
Feio,
Feito, diz
ele, antes da morte,
Perfeito.
Imperfeito.
Pobre,
Nobre,
Enquanto
caminham sobre a Lua as sombras terrestres do medo,
Um foguetão
em apuros,
Uma
traineira desgovernada,
Só, e sem
nada,
Perfeito.
Imperfeito.
Sempre
suspenso no alpendre da dor,
Sente,
Sofre,
Para quê? Se
ele percebe que vai morrer…
Sinto,
Ele,
No deserto
das serpentes,
Perfeito.
Imperfeito.
Sem jeito.
Silêncio…
Um caixão em
lágrimas,
As pálpebras
em chamas,
E, a vida
parece uma lâmpada sem alma.
Francisco
Luís Fontinha
Alijó, 31 de Outubro de 2017
domingo, 29 de outubro de 2017
Coração das sete serpentes
Iluminado
sejas, coração das sete serpentes.
O
cansaço das pedras, perfumadas almas na escuridão,
Palavras
dispersas,
Nas
garras de uma canção.
Iluminado
sejas, corpo desengonçado das sete maravilhas…
O
sorriso perfeito, nas tardes estátuas,
Os
livros mortos, os textos acorrentados aos braços da madrugada,
Iluminado
sejas, obscuro cansado prato, sobre a mesa do sono,
E
das pedras abençoadas.
Francisco
Luís Fontinha
Alijó,
29 de Outubro de 2017
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