sábado, 24 de junho de 2017

O grito


Neste cansaço dia

Sinto o abraço da alegria,

Sou um homem desajeitado

E sem sono,

Sou uma pedra imperfeita,

Sou uma nuvem desfeita…

E este corpo ancorado,

E este corpo cruxificado ao teu olhar madrugada,

O feitiço de amar,

Na planície magoada

Pela bela trovoada…

Sou um homem desiludido com a cidade dos Deuses Tristes de Morrer…

Uma amêndoa apodrecida jaz sobre a minha mão de escrever,

Sempre me recordam as cinzas do teu silêncio amanhecer,

Neste cansaço dia

Sinto o abraço sem perceber o que sentia,

As albufeiras da solidão

Descem a montanha até ao meu coração,

Irritado,

Sou uma pedra de granito

E grito…

E sinto sem sentir…

A alegria de sorrir,

Na tristeza do grito.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 24 de Junho de 2017

sexta-feira, 23 de junho de 2017

Nascer no tempo… no tempo de sofrer

Não vou ter tempo para desenhar o tempo no silêncio da noite teu corpo,
Não vou ter tempo para semear nas tuas cochas o mais belo poema de amor…
Porque não sou poeta,
Porque não sou desenhador,

Não vou ter tempo para ver o nosso filho escrever no pavimento térreo do quintal,
Porque nem sequer temos um filho,
Porque nem sequer temos um quintal,

Não vou ter tempo para acariciar a chuva miudinha que se entranha no teu cabelo,
Não vou ter tempo para ir à lua e trazer-te um beijo…
Porque sendo astronauta não tenho esse desejo,

Não, não vou ter tempo!

Não vou ter tempo para te desejar,
Não vou ter tempo para no teu corpo brincar…
E juntos, sem tempo, olharmos o mar,

Não vou ter tempo para muito viver,
Já muito vi sem querer…

Não, não vou ter tempo!

Não vou ter tempo para escrever,
Tempo para amar,
Tempo para ver nascer…
Nascer no tempo… no tempo de sofrer.


Francisco Luís Fontinha
Alijó, 23 de Junho de 2017

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Cansaço


Canso-me das tuas palavras, meu amor,

Canso-me do teu sorriso… quando sou alicerçado aos rochedos e na minha vida não existem sorrisos,

Canso-me do teu olhar, meu amor… quando regressa a noite e odeio um simples olhar,

Canso-me da riqueza e da beleza das coisas… mesmo as mais belas,

Canso-me da tua sombra quando o orvalho rompe pela manhã e nas tuas mãos trazes o lenço da saudade,

Canso-me de mim, meu amor,

Canso-me dos meus poemas, meu amor… quando os meus poemas são apenas palavras desconexas e perdidas no vento,

Canso-me do silêncio, meu amor… quando amo a trovoada e a chuva de Verão,

Canso-me dos rios e dos montes,

Canso-me do mar e da infância…

Canso-me tanto, meu amor…

Canso-me tanto, meu amor.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 22 de Junho de 2017