quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Escolho-te


Escolho-te pelas desventuras dos segredos proibidos.

Escolho-te pela vaidade das madrugadas sem dormir,

Quando no horizonte se esconde uma andorinha selvagem, triste, sonolenta…

Escolho-te pelas nuvens de prazer que sobrevoam as cidades desertas, e cansadas.

 

E dos fantasmas as alegrias do teu olhar,

Escolho-te pela luminosidade da alvorada antes de acordar,

Golpeando a terra abandonada,

E fria da solidão…

Escolho-te porque nascem estrelas no teu sorriso de silêncio adormecido,

Quando não vêm as lágrimas do destino.

 

Escolho-te quando na minha mão poisas, brincas, saltitas como uma criança.

Escolho-te nas tempestades do deserto,

Ou nas ribeiras descendo a montanha…

E quando te escolho… acorda o dia no meu relógio sentado à lareira.

 

 

Francisco Luís Fontinha

23/11/2016

domingo, 20 de novembro de 2016

Incertezas


Não sei o que fazem estes pássaros desajeitados no meu quintal.

A pobreza tomou conta deles,

Adormece-os enquanto não regressa a noite

E a doçura da paixão sobrevive ao luar,

Alimentam-se do meu cansaço que vive desassossegado na minha mão,

Insiste na nobreza do espaço,

Inventa tempestades de açúcar

Como se fossem nuvens em papel.

O sono é um livro de despedidas,

Palavras à solta nos socalcos da solidão,

O prazer construído na cidade invisível

Que imagina horários abstractos e doentes…

Não sei,

Não sei o que fazem estes pássaros desajeitados no meu quintal.

 

 

Francisco Luís Fontinha

20/11/2016

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

vozes


vozes

a camuflagem nocturna da paixão

nos meandros do sono anunciado…

os gritos

o subscrito lacrado

que o Doutor recebeu

do dependurado luar

enquanto escrevia

viu

viu o milagre acontecer

desceu as escadas

começou a escrever

sem recordar o espelho que envelheceu

numa tarde de Outono… mais adiante

lembrou-se da corrente

que trazia suspensa no pescoço

morreu

e via

as madrugadas

e a estrela que lhe mente

quando as vozes

vozes

adormecem no caixão

da paixão

vozes…

nas profundezas do poço

que o corpo não sente.

 

 

Francisco Luís Fontinha

17/11/2016