quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Caracol parede acima, caracol parede abaixo, “cagarin-cagarou”, amanhã é outro dia, amanhã será um novo dia de…


Ela é a mulher mais bela do Universo, incendeia montanhas, submerge aldeias, e “cagarin-cagarou” que amanhã é outro dia, uma nação em desordem, a aldeia a vomitar silabas como quem vomita poemas de álcool, e o meu corco docemente embalsamado pela tristeza, a “rita” embriagada esperando o seu amante, e tarde após tarde, esta irritante fotografia desfocada, caracol parede acima, caracol parede abaixo, foi-se

A Gravidade da gravidade, o inchaço da pornografia nos lábios do pornografo, abstracto corpo voando para leste, depois desceram as madrugadas

Amanhã, mor?

Depois desceram as madrugadas, ele, “cagarin-cagarou”,” e que com paciência até se vai ao cu de uma formiga”, duvido, não acredito no Caracol parede acima, caracol parede abaixo, tretas dele, como se o caracol fosse um pássaro de lábios pintados, vermelho anoitecer na face da lua,

“cagarin-cagarou”,

 Da lua um sorriso de sono…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

quinta-feira, 24 de Dezembro de 2015

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

E ninguém, e ninguém disponível para assassinar a tristeza que habita esta casa…


O desejado silêncio

Deitado no obscuro beijo

No centro do círculo da solidão,

A cidade ainda dorme,

Provavelmente acordará sem perceber que o amor está acorrentado aos rochedos da montanha do “adeus”,

Não importa,

Deixá-lo estar até que a noite caia

E se erga a escuridão ao pescoço da morte,

Batem à porta,

Certamente não é o carteiro…

Porque durante a noite não recebo cartas tuas,

Será o desejado silêncio

Deitado no obscuro beijo

No centro do círculo da solidão?

O cubo junto ao mar,

O raio da circunferência quase a desfalecer…

E a maldita cidade

Dorme,

Abstrai-se do meu corpo

Como todas as figuras geométricas clandestinas do meu caderno quadriculado,

A janela encerrada desde a tua partida,

Os livros em finíssimas fatias de melancolia esperando o teu regresso,

E os papéis escritos…

No cesto triangular onde guardo os poemas perdidos,

E ninguém, e ninguém disponível para assassinar a tristeza

Que habita esta casa…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

quarta-feira, 23 de Dezembro de 2015

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Fodi-me, foda-se… está um frio de rachar a peida, pego no cachimbo, manuseio-o melancolicamente, e não me apetece fumar cachimbo, apenas o acaricio, nada mais, apenas e só,


Os lobos dormem à minha porta, lá fora apenas o silêncio do cio, alguns gemidos, e a entrada do rio casa dentro, fodi-me

Os lobos querem comer-me, alguns ossos insignificantes, duas bonecas de trapos e uma espingarda de brincar, Pum…

Fodi-me, pensava eu, quando percebi que estava aprisionado às garras das sombras inanimadas do Inverno, acordo, levanto-me, abro a janela…

Fodi-me, foda-se… está um frio de rachar a peida, pego no cachimbo, manuseio-o melancolicamente, e não me apetece fumar cachimbo, apenas o acaricio, nada mais, apenas e só,

Os lobos querem-me, nem que seja apenas para troféu, um ganho, um dia feliz quando percebi que no teu olhar habitavam magnólias cinzentas, tão lindas…

Fodi-me

Tão lindas como são lindas as estrelas em Luanda, como são lindas as estrelas em Lisboa…, e fodi-me

Comi de tudo, inventei sofrimentos de nada só porque me apetecia criar sofrimentos de nada, abracei a pior noite da minha vida, fodi-me, ela não acredita que sou palhaço e trabalho num circo ambulante

Senhor Doutor…, o caranho, Senhor Doutor o caralho, apenas uns miúdos em troca de alguns cêntimos, lá dentro os cânticos Natalícios de sempre,

Fodi-me,

Que se foda o Natal (é triste, aborrecido, jantamos e a pessoa que amamos está longe…, uma merda, uma merda, senhor Doutor),

Fodi-me, os lobos dormem à minha porta, lá fora apenas o silêncio do cio, alguns gemidos, e a entrada do rio casa dentro, fodi-me

Os lobos querem comer-me, alguns ossos insignificantes, duas bonecas de trapos e uma espingarda de brincar, Pum…

Caiu, tombou sobre o sobreiro da geia do meio, PLUF… o grito dela quando vê o desmaiar do sobreiro mais antigo da aldeia dos tristes.

 

(ficção)

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 22 de Dezembro de 2015

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Os teus lábios são doces de amêndoa sibilado


Os teus lábios são doces de amêndoa sibilado

Em translação à volta do desejo

Nos teus lábios nasce o beijo

Do corpo degolado,

Há palavras infinitas que só a tua boca conhece

Madrugadas famintas das janelas cremadas

O poeta nunca esquece

As tuas mãos em mim alicerçadas,

Os teus lábios são doces de amêndoa sibilado

Galgando a montanha do silêncio anoitecer

Os teus lábios, meu amor, são pergaminho cansado

De tanto eu nele escrever…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

segunda-feira, 21 de Dezembro de 2015

domingo, 20 de dezembro de 2015

O infeliz destino de ser menino


Neste porto onde me encontro fundeado pareço um pergaminho desgovernado,

As palavras fugindo para o Cais dos Afogados

Como se houvesse um silêncio em cada palavra escrita,

Deixei de pertencer ao meu corpo,

Deixei de ter corpo,

Para alimentar o desassossego da solidão,

Neste porto

Um infeliz marinheiro sem Pátria,

Em busca da sua embarcação…

Fundeada nos meus braços,

Carrego nos ombros a morte,

O infeliz destino de ser menino,

 

Carrego nos ombros a forca

Dos telhados de vidro…

E o triste destino.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

domingo, 20 de Dezembro de 2015