Finge
o tempo acordar nos adormecidos sargaços da manhã,
Invento
o esmagado espaço que os pássaros alimentam sem perceberem que a madrugada se
suicidou nos rochedos da solidão,
Sou
feliz assim…
Procuro
nas janelas do amanhecer os carrascos envelhecidos da paixão,
E
dou conta que nas minhas mãos restou a saudade,
Pego
num livro,
Abro-o
e procuro nele as personagens da noite,
Vagarosamente,
Construo
o invisível visitante da desgraça…
Que
vive em minha casa,
Oiço
o teu sorriso nos alpendres da insónia,
Caminho
sobre o teu corpo como um vagabundo da vergonha,
E
mesmo assim… para ti, sou o assassino das palavras não escritas,
Velhas
e irritantes,
Escrevo-te
como escrevi milhares de vezes à Lua,
Em
vão…
A
distância dos supérfluos caminhos do desgosto,
Essas…
parecem adormecidas nos meus pequenos lábios de porcelana,
As
fotografias,
As
imagens prateadas das sandálias do cacimbo que ficaram nas enxadas profundas
dos charcos de água,
Os
fantasmas do luar descendo a calçada até que a morte vinha e nos levava para
destinos incrédulos, ausentes, sem nada,
Finge
o tempo,
Finge
o lamaçal de vaidades que me rodeiam e odeiam como serpentes de veneno
encarnado,
O
tempo que não avança nas tuas coxas,
Os
teus seios que se encontram acorrentados ao mísero porto, o cheiro nauseabundo
da nafta e de velhas sucatas, a proximidade do teu sorriso agachado no
pavimento encaixotado, móveis, miudezas e outros ossos…
A
loucura,
Que
finge pertencer-me…
E
que eu nunca tive a oportunidade de a vencer na batalha da solidão,
São,
meu amor, são os poemas desertos do desencontro que me deixam atormentado,
São
as tuas palavras cravadas no meu peito que me dão as asas necessárias para eu
voar junto à janela…
E
mesmo assim, queres que eu finja que sou poeta…
STOP.
Francisco
Luís Fontinha
Alijó,
8 de Abril de 2017