segunda-feira, 30 de novembro de 2015

O amor é um cubo de vidro sem coração ama a luz odeia a escuridão


O amor é um cubo de vidro sem coração

Ama a luz

Odeia a escuridão

O amor é um covarde diplomado

Faz sofrer

O amado

Faz sofrer quem é amado

Felizes aqueles que não amam

Felizes aqueles que não são amados

Pelo amor

As pálpebras secretas da noite

Quando a fogueira do desejo invade a madrugada

Quando a morte traz a saudade

De um corpo

Entre ossos e sombras

Entre palavras e livros

Faz sofrer o amado

Faz sofrer o sofrido

O amado

Faz sofrer quem é amado

Ama a luz

E os candeeiros da solidão

O amor é um cubo

Hipercubo

Um gato

Sem nome

Um rochedo perdido na montanha do Adeus

Partiu de mim o amor

Ama a luz

E faz sofrer

O amado

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

segunda-feira, 30 de Novembro de 2015

domingo, 29 de novembro de 2015

Desfocada imagem do teu olhar entre os parêntesis da saudade


Estou só

Neste labirinto de lágrimas salgadas

Sento-me e espero o regresso do teu olhar

Que vem do outro lado do Oceano

Trazes-me o sonho e a saudade dos musseques sombreados

Trazes-me a voz e o desejo

E eu sentado nas asas em papel que inventaste apenas para mim

Olho-as e vejo nelas a desfocada imagem do teu olhar entre os parêntesis da saudade

Uma criança entre baloiços e sobejantes sorrisos prateados

Espera-te junto a um portão imaginário

Entras

Ela abraça-te e afogas o cansaço do dia na minha face

 

Não tenhas medo do mar

Nem dos barcos invisíveis

Não tenhas medo das árvores

Nem dos pássaros amestrados que brincam nas mangueiras

Desenha na terra húmida os círculos os quadrados e os triângulos da alegria

Depois vais conhecer o amor

E a paixão de amar

E a solidão do amanhecer

Estou só

Neste labirinto de lágrimas salgadas

E pareço um marinheiro aportado em Cais do Sodré…

Vendendo insónia e coisas enigmáticas de chocolate.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

domingo, 29 de Novembro de 2015

Feliz aniversário - Pai


A tua ausência alicerça-se ao meu coração, penso em ti meu querido, recordo-me da tua mão entrelaçada na minha, víamos os barcos, brincávamos nas areias brancas do Mussulo, e perguntava-te

Porquê pai,

E perguntava-te a razão da saudade embainhada nos livros não lidos, e perguntava-te quando partias… e tu, e tu sorrias… sabias que partias, mas nunca mo disseste, covarde, medo de partires sem me avisar, isso não se faz, meu querido

Sentia a tua voz poisada nos meus ombros, pedia a Deus, eu teu filho Ateu, que me desse todas as forças possíveis e imaginárias para te proteger, desculpa, não fui capaz, também eu um covarde diplomado, poeta, sentinela da noite,

Isso não se faz, vais, não voltas, e deixaste de conversar comigo, covarde, partiste sem me avisar, foste, amanhã, amanhã nada, nunca, nunca acreditei na tua covardia, mas traíste-me

Foste, nada me disseste, deixaste-te ir… eu vi-te, lembras-te, meu querido,

Amanhã, meu filho,

Amanhã, amanhã meu querido…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

domingo, 29 de Novembro de 2015