quarta-feira, 29 de abril de 2015

O covarde


Viajo nas tuas mãos

Andorinha selvagem

Sem poiso

Agreste

Na sombra da viagem

Peço-te o beijo da despedida

Não o queres

E rejeita-lo como se fosse uma faca de sangue

No corpo da paixão

Ignoro a tua ausência

Não percebo porque existem ruas desertas

Mulheres

Mulheres sem nome

Galgando a penumbra madrugada

Sem sossego

Sem

Sem nada

Viajo dentro de ti

À boleia do desejo

A sagrada noite vestida de lentidão

Sem

Sem nada

Amanhece

Cresces entre os desassossegos da liberdade

Trocas o beijo prometido

Por

Ausência

Falta de tempo

Porque amanhã

Tenho de trabalhar…

E eu

E eu amanhã tenho de escrever-te

Dizer-te

Dizer-te o que nunca tive coragem de o dizer

(covarde)

Eu sei

Sempre o fui

E sempre o serei…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 29 de Abril de 2015

terça-feira, 28 de abril de 2015


Sabíamos que o tecto da saudade

Deslizava sobre o silêncio da morte

O homem acabava de pertencer…

… de pertencer à solidão

Havia na madrugada

Panfletos de insónia

Voando contra o luar

Amanhã saberei porque morrem os pássaros

E as abelhas do inferno

Como nascem as lágrimas no teu sorriso

Sabíamos que o tecto

Morto

Salivando barcos a vapor

E pequenas marés de enxofre

E sabíamos

E não conseguimos acordar…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 28 de Abril de 2015

domingo, 26 de abril de 2015

O espelho


Esta vida em crescentes cansaços

a pele iluminada na ira do vulcão

como sempre

esboçando nos tentáculos orgasmos dos homens

este amor

meu amor

um computador

novo

(ao menos

enquanto estiver com ele

não penso em ti...)

como quando desenho noites

nos teus lábios

no espelho da cidade que nunca sorri...

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 26 de Abril de 2015