sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Saudade


Prometeste-me uma jangada de saudade
desenhaste em mim uma rua sem saída
de uma qualquer cidade,

naquela madrugada de solidão
parti...
voei em direcção ao infinito
naquela madrugada sofri
gritei
não
não chorei
porque a jangada prometida
se afundou nas tuas mãos
trémulas
mergulhadas na dor
suspensas no transatlântico de cartão,

havia palavras na tua face esbranquiçada
palavras que de nada me servem
porque... porque o sofrimento é uma calçada
porque o sofrimento é um rio sem nome,

prometeste-me uma jangada de saudade...

e o teu corpo parece desfazer-se em pequenas migalhas de suor
há uma livro para ler...
há um livro para escrever,

prometeste-me uma jangada de saudade...
e apenas tenho o teu rosto envelhecido
distante
desorientado...
como eu
perdidos na sanzala do Adeus!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 3 de Outubro de 2014

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Estas palavras


Estes versos não são teus,
não existem palavras para saciares os teus desejos,
anseios... e medos,

Não há mar sem rochedos,
nem barcos sem marinheiros...
estas palavras são beijos,

São torpedos...
veneno esponjoso que alimenta a garganta da dor,
estas palavras... estas palavras não são as palavras de amor!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 2 de Outubro de 2014

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Piano amar...


Dos espinhos melancólicos da insónia,
oiço-os,
como se eles tivessem um corpo,
ou... ou vestissem-se de palavras ainda não escritas,
entranhadas no papel amarrotado da madrugada,
oiço-os...
os sons melódicos do piano amar...
domesticado,
livre...
dos espinhos melancólicos, as ditas canções anónimas com sorriso de alecrim,
o cansado beijo suspenso nos lábios da pianista...
livre... até que desaparece no seio das linhas paralelas da solidão.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 1 de Outubro de 2014