sábado, 9 de agosto de 2014

Menina das insónias ondas do Oceano desejar!


Pertences ao desejo amanhecer,
és a amante dos meus braços cadentes que a noite absorve,
pertences à cidade florescente dos rochedos sem nome,
és o beijo disfarçado de manhã adormecida,
e há na tua pele uma pluma doirada, e amar-te parece um poema inacabado,
és mulher, és a poesia das árvores dançando com o vento,
és o luar, és o alimento...
dos veleiros passeando no mar,

Pertences ao rio cansado de amar,
és a filha das sanzalas de papel com odor a neblina,
és a menina dos olhos de sisal...
és o beijo,
és o texto embriagado com as palavras de cristal,
e há nos teus lábios um labirinto de doçura, um poço de silêncio envenenado...
que me engole, que me embrulha... como se eu fosse o teu corpo,
o corpo que desenha prazer no teu corpo de algodão,

Pertencerás-me um dia?
Menina das insónias ondas do Oceano desejar,
tens nos teus olhos a textura dos cortinados de néon que inventam o amor,
menina,
menina dos abstractos nocturnos que povoam os teus seios...
dos pássaros, dos pássaros que poisam nas tuas coxas cinzentas,
pareces a montanha nua..., pareces a Aurora Boreal dos cinzeiros de prata,
… pertencerás-me um dia? Menina..., menina das insónias ondas do Oceano desejar!



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 9 de Agosto de 2014

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

O trigo silêncio da madrugada


Serás a eterna folha de papel,
a pele húmida da tempestade que me embrulha quando cai a noite na eira de Carvalhais,
oiço o espigueiro atrapalhado no interior das canções de um sino em delírio...
oiço a tua ofegante voz quando tentas tocar-me... e foges, e desapareces no trigo silêncio da madrugada,
serás a eterna folha...
onde vou escrever os meus beijos, onde vou escrever as minhas caricias e os meus desejos,

Serás o rio onde me vou sentar,
os socalcos seios onde poisarei a minha cabeça...
depois... depois de acordar,

Serás a migalha de prazer que deambulará numa cama inventada,
os lençóis de seda que as tuas mãos aprisionam..., os sótãos do amanhecer,
e os gemidos quando és penetrada,
serás o luar,
e os versos ensonados das manhãs de liberdade,

Serás a eterna folha de papel,
a tinta ensanguentada dos orgasmos poéticos,
serás a eterna claridade dos espelhos de brincar,
o carrossel de uma cidade..., o cansaço de uma noite de amar,
serás o trapézio que se esconde na ardósia da tarde...
… a geometria nocturna de um corpo entranhado pelo poeta sem nome!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 8 de Agosto de 2014

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

O beijo poético…


Meu amor,
Existes?
Perturbo o teu sono,
Visto-me de abelha e brinco na colmeia da tua insónia,
Sorris, brilham nos teus olhos as minhas palavras,
Habitam nos teus seios os meus desejos, os meus versos…
O rio que corre nas minhas veias,
Há dentro de mim uma África perdida,
Socalcos, vinhedos…
Barcos coloridos que atracam nas tuas mãos,
Meu amor,
Existes?

Perturbar o teu sono é poesia,
São canções inventadas por estórias, são searas de trigo dançando ao som do vento…
Perturbar os teus sonhos, deitar-me no teu corpo… como se eu fosse a tua pele de alecrim em flor,

A montanha que nunca dorme,
O luar que jamais cessa de brilhar,
Meu amor,
Existes?
Nas frívolas manhãs de Primavera, e… e absorver os teus lábios de livro em construção,
Percorrer o silêncio de uma ponta à outra, sem me cansar de te olhar,
Sorris…
Olhas-me…
Existes?
Estrela-do-mar,
Que me ilumina ao deitar,
E sem pressa… e sem pressa ofereço-te o beijo poético…



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 7 de Agosto de 2014