Poema de Francisco
Luís Fontinha em destaque - Sapo Angola - blogue Cachimbo de
Água.
|
terça-feira, 4 de fevereiro de 2014
segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014
Cabelos de cinza poeira
foto de: A&M ART and Photos
|
Hoje não percebi as minguas palavras
dos teus lábios,
hoje tive medo às trémulas tuas mãos,
parecem grãos de areia semeadas nas planícies dos sonhos
adormecidos,
e lá fora, longe de ti, beijos que se
entrelaçam como réstias de silêncio provocadas pelo diurno ciume,
às lâmpadas os filamentos osmóticos da solidão vaporizada, e
depois... o batimento do coração de uma doente árvore, há
lágrimas, há... há sofrimento nas pálpebras do abismo, e há
pássaros suspensos no peitoril da tua janela sem fotografias para o
mar...
hoje sofri, hoje... hoje também tive a
oportunidade de sorrir, brincar contigo... e dizer-te até amanhã
sem que tu percebas que para mim... para mim é-me difícil entender
o amanhã, porque sinto os alicerces dos Oceanos em papel, ou... ou
porque recordo os barcos das tempestades de zinco sobre o capim em
overdose de saudade...
há..., há cais marítimos onde os
corpos mergulham no álcool da atmosfera saturada, cansada, pedindo
perdão às mesas desertas... e coitadas delas, esperando as
pinceladas vãs dos pequenos cadernos de argolas,
e hoje, hoje não percebi os teus
olhos, tristes, magoados, negros... negros porque tu vestiste-te de
noite e como noite, que és, percorres todas as sombras da triste
cidade, vês passar o metropolitano, imaginas os mabecos de quando
eras ainda um rebelde adolescente, não tinhas onde atracar... e só
quando havia a preia mar e baixa mar... tu, ausente de ti, dizias-nos
que eras uma flor de pétala encarnada... há, há cais marítimos em
cio, há gaivotas em cio... há doenças em cio,
e os corpos são de aço quando sentes
as ventosas nos teus abraços,
vives, e vives acreditando na penumbra
marginal de veludo,
vives e olhas-me como se eu fosse uma
rocha granítica voando sobre os teus cabelos de cinza poeira,
e hoje não percebi,
e hoje... hoje tive o pressentimento
que a noite é uma prostituta embrulhada nos corpos do nada, sémen,
sábado à noite, o bar encerrado, e hoje... hoje não tive coragem
de chorar...
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 3 de Janeiro de 2014
domingo, 2 de fevereiro de 2014
Círculos, círculos de ténue luz
foto de: A&M ART and Photos
|
Círculos, círculos de ténue luz
sobre os teus olhos cinzentos,
lá fora ouve-se o granizo comendo os
sonhos daqueles que dormem, e saltitam sobre as nuvens de vento,
lá fora há pálpebras que choram,
automóveis que se recusam a andar,
suspendem-se nas canadianas, procuram
de vez em quando uma bengala de verniz...
lá fora tudo parece ser feliz, as
plantas argumentam nas palavras os distintos sons dos teus lábios,
círculos,
quadrados,
quarta-feira... a luz inverna e todos
os silêncios ancorados a ti,
tu, quem és?
tu... tu o que fazes junto a mim quando
me olho no espelho, quando descrevo as nódoas do meu rosto por meia
dúzia de palavras, tão poucas... mínimas... que apenas
pronuncio... “ausência e dor”,
e círculos..., círculos viciados em
sexo e drogas, deitados na relva do pôr-do-sol,
e... e círculos, círculos de ténue
luz sobre os teus olhos cinzentos.
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 2 de Janeiro de 2014
Labels:
ausência,
cidade,
círculos,
espelho,
lábios,
luz,
palavras,
poema,
Poesia,
pôr-do-sol,
quadrados,
silêncio,
solidão
Location:
5070 Alijó, Portugal
Subscrever:
Mensagens (Atom)