sábado, 18 de janeiro de 2014

Sem nome – o teu nome

foto de: A&M ART and Photos

Não sei o nome dos teus olhos molhados
quando chovem pedaços de saudade nas pedras íngremes do silêncio
convenço-me que sou um corpo putrefacto esquecido nos pingentes húmidos telhados de vidro
sentindo as tuas mãos em aço
e submergindo nas tempestuosas águas que as palavras trazem depois de escritas
ditas e perdidas nas calçadas com flores apaixonadas pelos candeeiros envidraçados do medo
e na areia da paixão sei que vivem vogais vestidas de negro vendendo o corpo por três moedas...
sei que o teu corpo é um fóssil mergulhado nas quatro pedras de gelo do meu invisível uísque
sinto-as como carícias sombras nas páginas do livro de poemas à procura do barco dos sonhos
apitam e choram apitam... e gritam... e apitam... e gritam o apito da melancolia
e em loucas orgias de sílabas licenciadas em nuvens de sémen...
não sei o nome... dos anzóis da solidão.


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 18 de Janeiro de 2014

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Vozes de granito

foto de: A&M ART and Photos

Há uma estrada que nos transporta até à cidade do gelo
dento do desejo medo
um livro teu mergulha na inocência da noite poética
o uísque embainha-se no gelo da cidade perdida
e uma personagem invisível veste-se de madrugada
há uma estrada
uma rua e um nome...
há um calendário que me insemina na doce margarida em pétalas fungiformes
dos torrões de açúcar
e escreve no meu corpo os números tristes das planícies dos cegos
a gaivota da tua mão mórbida aparece nas costas do cortinado cinzento junto à lareira da paixão
e um corpo...
o teu corpo... arde como papel vegetal em pequenos esquissos dos loucos projectos,

Há vozes de granito que iluminam a escuridão das tuas pálpebras
e dor que transforma as plantas vivas em mortas jangadas de veludo
há a dita cidade do gelo
encastrada nos seios da mulher de palha...
oiço-os em gritos andaimes depois da despedida que o cais das lágrimas de aço transborda montanha abaixo
rio acima tudo dorme sem perceber que da noite nascem lençóis de prazer
e as pontes de vidro que eu toco são como a frieza dos teus velhos lábios...
o nome que não sei pronunciar
escrever...
o nome inventado nos rochedos de areia da cidade do gelo
há uma estrada em ti que me acorda em todas as alvoradas
e... e desejei eternamente ser em cartolina como os jardins do nada.


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 17 de Janeiro de 2014

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Incineração

foto de: Martin Bernier

Incinero-me na tua sombra com os espelhos nocturnos do inverso complexo número
e sinto em ti as cinzas equações das tristes integrais
duplas… triplas...
infinitamente sós
soalheiramente sentadas num quadriculado caderno com capa negra
argolas nuas dos simplificados arames maleáveis em chapéus de palha humedecida pelo desejo orvalho da madrugada...
sinto-te desfalecer a cada minuto em desassossego e as janelas não mais acordaram depois da tempestade
o silêncio mergulha-te
insemina-te de falsos alicerces...
como falsas deles as palavras que somos obrigados a ouvir
incinero-me na tua sombra sem o saber
e não entendo as tuas lágrimas após caírem sobre o soalho os cortinados da solidão...


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 16 de Janeiro de 2014