segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

come-a e vêem-se e vêm-se as limalhas do silêncio

foto de: A&M ART and Photos

o desespero da sorte
quando o furacão do infinito se entranha na morte
come-a e vêem-se e vêm-se as limalhas do silêncio à mão da solidão
a tristeza é uma palavra esquisita uma palavra incerta uma palavra sem coração
que habita nos corpos sãos e nos esqueletos invisíveis dos horários relógios enlouquecidos
o desespero da sorte
a sorte porque se desespera a vida
inventando noites frias
e rouquidão como companhia...
o dia
alicerça-se à retroversão dos comboios em movimento
morre-se e leva-nos o vento

a palavra tristeza
engasga-se nas ardósias tardes do xisto com portas de aço
o castigo aparece
e o corpo aloca-se na encosta da montanha vulcânica do cemitério da poesia...
farto-me
canso-me
findo-me... como o desespero da sorte...
...não tendo sorte (diz-me ele)

habito neste triste cubo de vidro
sou um aquário aquariano vestido de rio
sou uma ponte que engata gaivotas
ou... um lindo vestido negro que engata cigarros apaixonados
tontos e viciados
embriagados como os pássaros que poisam nos teus ombros
como a palavra tristeza...
alegre quando é de noite
e feia e velha... quando a lareira acesa se abraça ao fumo das campânulas envidraçadas
têm olhos de papel
têm e vêm acompanhadas de pulseiras em prata
como os coiratos da roulote da tia Adosinda...

(a esta “merda” uns chamam de vida
outros... de... não ter sorte...
… eu... eu chamo-lhe de morte...
porque a morte é uma tristeza sem sorte...
… é um rio sem vida)


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 2 de Dezembro de 2013

domingo, 1 de dezembro de 2013

sem-nome

foto de: A&M ART and Photos

não tínhamos nome
perdemos-nos na idade enquanto poisava no tecto do desejo a saudade
inventávamos estórias com pequenos paus de fósforo
aqueles...
que sobejavam dos cigarros perdidos na madrugada
não dormíamos
e não tínhamos nada...
cama
roupa
ou comida
lavada
não tínhamos nome
(morada
idade
sexo
não éramos nada comparados com os tristes cortinados das alvoradas sem tempestade)
percebíamos nada de poesia
tínhamos medo da literatura
e durante a noite...
dormíamos embrulhados às personagens que tínhamos lido quando ainda existia em nós a tarde junto ao candeeiro cinzento do jardim nocturno dos abismos rochedos de néon
os sexos mergulhavam na ponte metálica das treliças mãos que o desejo deixava em nós...
calculávamos o momento fletor das nádegas tuas quando lá fora uma equação de tédio
sem nome como nós
também
perdia-se nas sanzalas dos olhos verdes
o medo absorvia-nos
e a morte aos poucos
comia-nos como come os marinheiros de ombros sombreados nos petroleiros do fantasma envidraçado...


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 1 de Dezembro de 2013