segunda-feira, 14 de outubro de 2013

domingo, 13 de outubro de 2013

poderíamos

foto de; A&M ART and Photos

poderíamos ter um cão
uma cabana na montanha
uma cama
uma canção
uma flor com sintomas de paixão

poderíamos ter o mar
os filhos e as filhas do mar
as maré e o pôr-do-sol
poderíamos ter um cão
um letreiro e a esmola do mendigo que sentado na calçada suspira como gente ofegante

um olhar penetra no teu corpo doirado
poderíamos ter um cão
uma cabana na montanha
um sofá com asas de carvão
poderíamos... mas não mas não um triste sorriso de adormecer

uma noite mal dormida
chuva
neblina
chuveiro depois de fazermos amor...
poderíamos

poderíamos ter um cão
um rio com lábios de sangue
uma gaivota poisada sobre os andaimes do tos teus seios...
poderíamos ter um cão
beijos e uma lanterna com fotografias de sonhar


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 13 de Outubro de 2013

Ficávamos abraçados a sentir a morte das nozes

foto de: A&M ART and Photos

Nunca sei como começar, nunca sei porque me sento em frente a esta secretária, nunca sei porque escrevo estas palavras, às vezes, mortas, às vezes
Sem sentido?
Às vezes perco-me na escuridão do dia e acordo na neblina da noite, às vezes escondo-me nos rochedos do medo, outras vezes
Sem sentido?
As nozes caem como papelinhos de anjos mergulhadas no desespero de que as vê cair, e depois de inertes no chão ensanguentado de cascas e pequenas ervas daninhas, os olhos da papoila dançam canções de Domingo noite fora, tínhamos uma vara de aço, ouvíamos alguém na sombra a remexer os ramos escondidos nos alicerces da montanha, tínhamos frio, tínhamos o desejo de as comer, e ouvíamos de dentro da escuridão uma mão de cansaço parti-las com uma pedra ou com a dentadura postiça,
Sem sentido...
Às vezes?
Ficávamos abraçados a sentir a morte das nozes,
Nunca sei porque o faço, nunca sei porque o comecei a fazer, no passado, muitos anos antes de aqui e agora sentir o
Telintar das nozes?
Sem sentido, escrevo-te como se fosse a minha última vontade, e a minha ultima vontade é não ter vontade nenhuma, quero ser como fui, quero ser como nunca consegui ser, caminhar sem
Sentido?
Ouvimos-las descer o talude em direcção ao rio, em queda livre, elas parecem pássaros a despedirem-se dos voos nocturnos da paixão
Conheces alguém que tenha conseguido sobreviver ao impossível amor?
Os ratos,
As ratazanas doidas comem os macacos menos loucos, e eu, eu aqui a olhar o mar estampado nas prateleiras de uma longa e distante estante recheada de
Rochedos?
Vozes e nozes,
O mar, o mar vê-se e ouve-se e alimenta-se
De ti?
Não o creio, porque o teu corpo de cascalho tombou antes de elas caírem do céu, diziam-nos que as nozes tinham saborosas palavras que juntas
Poemas?
Rochedos?
Vozes e nozes,
O mar, o mar vê-se
Sente-se...
Sentido?
Prometi e não consigo cumprir, porque as nozes não o deixam, porque as vozes não mo deixam, porque não o consigo realizar, porque não sei
Como começar?
Era uma vez...
Não, não o quero, não o consigo fazer
Porque elas caem?
As ratazanas doidas comem os macacos menos loucos, e eu, eu aqui a olhar o mar estampado nas prateleiras de uma longa e distante estante recheada de
Rochedos?
Vozes e nozes,
O mar, o mar vê-se e ouve-se e alimenta-se e beija-me, o mar ama-me, o mar acaricia-me e deixa a minha pele desejada em palavras de caserna, da despensa ouvíamos as latas de conserva revoltadas porque hoje é Domingo, porque lá fora
Caem as nozes
E as vozes,
Fazes-me um bolo de chocolate com nozes e vozes e
Palavras?
Sim, sim,
Palavras inanimadas sobre a mesa da cozinha, e depois de fazermos amor, ouvimos-las...
Caírem sobre o talude da paixão,
Rolavam como serpentes sobre os lençóis húmidos que o teu corpo de solstício de Outono deixava ficar junto à janela onde a nogueira embriagada pela tempestade gritava uivos sons de
Palavras?
Sim, sim,
Não, não o consigo fazer, despedirem-me dos versos molhados, despedirem-me das pedras vestidas de branco e dançando no centro da noite de
Domingo? Tínhamos frio, tínhamos o desejo de as comer, e ouvíamos de dentro da escuridão uma mão de cansaço parti-las com uma pedra ou com a dentadura postiça,
Sem sentido...
Às vezes?
Que às vezes nada parece fazer sentido, depois do corpo adormecer e dos ossos magoados do miolo da noz...
As palavras ejaculam sílabas de arame.

(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 13 de Outubro de 2013