sábado, 20 de julho de 2013

És uma chata quando me perguntas...

foto de: A&M ART and Photos

Três dias após beijar os teus lábios de andorinha, cessei os braços nas tuas mãos de porcelana... e morri, recordo-me de ter cerrado os olhos, o verde em mim transformou-se em cinzenta neblina sobre o cansaço dos veleiros estacionados junto ao Tejo, amar-te-ei, pergunto-me? Quem és tu, se todas as flores vivem e morrem... quando o vento se alicerça nos minguados dias de tristeza, alimentas-te de orgias fumegantes e de gemidos lareira desvairada, líamos em conjunto os livros não lidos, virgens, e vivíamos como se tivéssemos acabado de nascer,
És uma chata quando me perguntas...
Amas-me?
Não o sei, porque esqueci-me o significado do amor, porque me esqueci o significado das palavras... porque me esqueci que ainda vivo, pouco, mas vivo miseravelmente como um pássaro que percebe que no próximo cruzamento uma munição será disparada em sua defesa...
Levante-se o réu
Levantei-te e gritei o desejo por ti, das tuas tristes flores, dos teus alegres lábios... e gritei das tuas sulfurosas lágrimas de enxofre..., e dizem-me que sou um miserável, um triste, um quase vagabundo percorrendo veredas e caminhos encruzilhados entre migalhas de centeio e palhaços de pedra, um rio renasce nos teus olhos
Não fiques riste minha amada indefesa e sonâmbula das tarde de Domingo, Amas-me? Sabendo eu que não sei o significado de amor, dos sonhos apenas trago em mim as pobres imagens vagabundas com purpuras sílabas semeadas no meu peito, saber-me-ás um dia converter em arbusto de Belém?
Um rio renasce nos teus olhos, de mim parece-me infinito o adormecer e a insónia, lembro-me das tuas imagens decalcadas em pequenos muros de betão que dividem a velha cidade da nova cidade, e são tão lindos os teus olhos de luar que percebo o significado da tua tristeza, sinto-o rosnar junto ao meu pobre tornozelo, porque tudo em mim é pobre, e percebo, que ele, o meu canino... sem dúvida... o meu melhor amigo, viver como as flores?
Lembras-te de mim, ainda?
E vivo, como se hoje fosse o meu último dia a pensar em ti...

(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Das laranjas embalsamadas

foto de: A&M ART and Photos

Pareia em teu dúctil corpo de incenso
a melodia poética das flores em construção...
vivo-as como se fossem gaivotas sobrevoando o desejo dos teus lábios
enfim... como se fosses uma nuvem de chocolate com doces morangos
pareiam em ti as palavras silenciosas dos minutos travestidos
que os calendários transformam num jejum incompleto e disforme...

Alimento-me das tuas cansadas dores íngremes nas plataformas inclinadas dos discos voadores
aos pratos sobre o teu peito que uma mesa de quatro pernas dorme e vive na praia dos teus seios
incongruente porque lá fora mesmo debaixo das árvores do nosso invisível quintal...
barcos
guindaste de areia
urgem como rugas na madrugada sumarenta das laranjas embalsamadas...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

quinta-feira, 18 de julho de 2013

A insígnia lágrima vestida de alegria

foto de: A&M ART and Photos

Trazias no olhar límpido a insígnia lágrima vestida de alegria
sentavas-te sobre mim e de longe ouvíamos as cansadas palavras
que migravam entre as madrugadas
mórbidas das manhãs sem marinheiro
galgando vales e campos aráveis como barcos em papel
subindo a montanha dos desejos às gargantas insolúveis da dor amanhecer,

Havia uma simples escada que terminava no segundo andar com vista para os lábios nocturnos
comendo morangos com pequenos cachos de brancas uvas...
trazias de mim a roupa pele em tonalidade de branco sujidade e sombras de torrado silencio...
mergulhávamos nos abraços que um velho esquisso transparecia através da luz da doente janela
com o coração salteando rochas de enxofre e ninguém conseguia pegar na tua doce lágrima
e fazer dela uma canção de amor ou... uma cancela com passaporte para a insónia,

Fazíamos as malas com os pedaços de tecido sobejantes das tempestades de areia
e sabias que na minha algibeira vivia um miserável humilhante verme com dentes em marfim
um transeunte em formato crocodilo que alguém trouxe de Angola...
e por engano vive
grita
ruge durante as noites de sexo sobre o tapete da casa de banho...

Trazias no olhar límpido a insígnia vergonha do corpo misturado em pequenos vidros
que desciam da nuvens embebidas em orgasmos vegetais das plantas de verniz...
escrevias nas paredes do alpendre palheiro as equações da eternidade
e um buraco de minhoca percorria-te o corpo sonolento dos soníferos de resina...
e inventavas noites a cada hora diurna...
como imagens desgovernadas a subir as escadas para o segundo andar onde habitava o nada

….

Ninguém percebe a tua boca quando se masturbam os teus lábios nas lágrimas do sofrimento...
confesso... e ninguém percebe as brechas de água que jorram dos teus lábios
confesso que a princípio pensei que eras uma lágrima voando sobre as escadas sem destino...
trazias... e gritavas... e rangiam os dentes em marfim dos esqueletos em flor
como tu e eu
dentro de um hipercubo apaixonado por rectas paralelas... fazendo o amor... algures no espaço vazio dos púbis em cacimbo quando mabecos e serpentes venenosas... derramavam sobre ti os uivos das sílabas das miseráveis algibeiras do mendigo com chapéu de bruma cor à tela desmaiada...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha