sábado, 22 de junho de 2013

Lábios de cereja

foto: A&M ART and Photos

Trazias-me os solstícios dentro da boca em lábios de cereja
tão doce e bela
a cereja envenenada pelo silêncio de ti procurando pedaços de mar
em marés enroladas livremente no teu pulso acorrentado ao meu indesejado
coração de fina areia em pálpebras de cristal,

Sei que te transformas em luz
e te perdes nas imagens nocturnas das fotografias sem versos
quando te envio versos ao domicílio
esquecendo-em que vives em mim
não me pertencendo... porque voas como os pássaros e és de papel,

Apenas sinto o teu corpo na distância de um milímetro linear
ao fundo da calçada
o rio
e a destreza das tuas lâminas faciais com pergaminhos bolor
e uma flor passeia-se na palma da tua mão,

Beija-me como te imploro dos desenhos nas paredes invisíveis que dividem
os dias e os beijos infinitos
à janela de ti as coisas orgânicas transformadas em húmus beleza
que sobeja da tua pele derramada canção em pétala madrugada
poisava-te a mão se tu existisses em mim como eu existo de ti,

Trazias-me os... em lábios de cereja
sentavas-te no meu colo e pacientemente
afagava-te o loiro cabelo em pincéis de veludo
corrigindo rugas imaginárias da tua inexistente bronzeada caligrafia
sobre o teu seio socalco em círculos dentro do Tejo teu púbis...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 21 de junho de 2013

O colorido poema tridimensional submerso sobre a falsa areia

foto: A&M ART and Photos

Praia, mar, sol... poesia, corpo, poético entre os raios coloridos do nocturno desejo, o colorido poema fantasiado de arraial círculo que em noites de Verão rompem na aldeia como lâmpadas sobre o tecto silêncio da pele saboreada pelas sombras de mim,
Louco, ele, ela, as coisas compostas e as não compostas,
O colorido poema tridimensional submerso sobre a falsa areia, as conchas de plasticina alicerçam-se aos tentáculos da solidão, há uma mulher em fuga, esconde-se debaixo da palmeira do largo S. João, ouvem-se ainda réstias de migalhas que sobejam da boca dos pássaros esfomeados, transformados em lenços de papel, da algibeira, a mulher em fuga, guarda uma chave, e não sabe, e nunca conseguirá saber... que porta se abrirá...
De entra, poderá ser uma porta de saída, dizem-me que todas as portas servem para entrarmos, e sairmos, ou para alguns se suicidarem, conforme o meu vizinho do rés-do-chão direito, coisas tão simples, que nós, às vezes, os vizinhos, complicamos, com a amizade, me despeço de ti até sempre, e nunca
Nunca mais apareceu junto aos arbustos onde existia um granítico banco com escotilha para o Tejo, livrai-nos senhor destes abutres esganiçados pela carne apodrecida, esperando as árvores tombarem, ainda vivas, correndo pelos corredores da insónia,
Tenho a fome do prazer entre palavras e cristais líquidos, transparentes como a pele escaldante da musa inspiradora, sobre o sofá, de livro na mão e ouvido encostado à parede de gesso, do outro lado, dois corpos transpiram, desejam-se, e ouvem-se os gemidos do cansaço, um, dentro do outro, como o cimento cola a suspender azulejos brancos numa parede enferrujada de um velho cacilheiro, havíamos de descobrir o silêncio enquanto fazíamos amor
Foram as suas últimas palavras antes de descobrir que a caixa em madeira onde dormia, não era um quarto a sério como o da prima Augusta, mas sim, e só, a caixa de fósforos do tio Augusto, coincidência, hoje percebemos que nas equações diferenciais existem beijos disfarçados de loucos corpos, tórridos, de loucas, sebentas com capa de cabedal, e o amor, fazíamos-lo junto às prateleiras que hoje, quase todas, vazias, mortas, e nunca mais senti durante a noite aqueles passos trôpegos sobre o meu tecto, e nunca mais ouvi o telintar dos talheres esquecidos dentro de pratos em falsa porcelana, faiança milagrosa que serviu para sobrevivermos durante alguns meses, e nunca mais, senti, o clique... do interruptor da sala de jantar,
E assim, deixamos de ouvir o raiar da noite,
E quando se enfureciam, elas, entravam-nos pela janela como se fazia nas ruas antes de acordar o Verão, puxávamos os lençóis da neblina e começávamos a sonhar com poesia dissimulada em corpos tórridos...
Sem nuvens,
E assim, deixamos de ouvir o raiar da noite, sem nuvens, como dizíamos, azulejos brancos numa parede enferrujada de um velho cacilheiro, havíamos de descobrir o silêncio enquanto fazíamos amor...

(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha