quinta-feira, 24 de agosto de 2023

As árvores do teu olhar

 É no teu cabelo em brilhante vento

Onde poisam os pássaros dos meus sonhos

E habitam as minhas palavras

E és tu mulher em branco vestido

A janela do meu olhar

Quando o mar me abraça e beija,

 

E eu travestido de barco luar

Danço nas sanzalas

E eu em pequenas despedidas

Escondo-me na tua mão.

 

 

 

Francisco

17/11/2022

(inédito)

quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Neve

Cai a neve, meu amor,

Nos teus olhos de Primavera adormecida,

Cai a neve,

Nesta manhã perfumada,

Desta manhã prometida,

 

Cai a neve, meu amor,

No silêncio dos teus lábios,

Nas palavras que a tua mão me escreve…

 

Cai a neve, meu amor,

Da mais pura brancura,

Nos teus olhos de ternura,

Dos teus olhos em flor,

 

Cai a neve, meu amor,

Em teu cabelo de vento,

Neve, neve meu amor,

Da neve que habita o meu pensamento.

segunda-feira, 21 de agosto de 2023

Novo dia

Trazem-me a despedida

E as últimas lágrimas da madrugada,

Trazem-me o vento em partida

Quando a saudade se esconde na calçada,

E a noite é um pedaço de nada,

 

Trazem-me o vento

E pedem-me para não pensar,

Como posso eu abdicar do meu pensamento

E do sorriso do mar,

Quando o amar… é apenas uma nuvem sem sentimento,

 

Trazem-me a paz e as flores do amanhecer,

Trazem-me a poesia

E as palavras de escrever…

Que deixarei de o fazer,

Quando acordar o novo dia.

 

 

21/08/2023

Francisco

domingo, 20 de agosto de 2023

Musseques da minha infância

 Podia amar-te enquanto o vento

Leva o que restou da minha vida

Podia odiar-te enquanto o vento me traz novamente à vida

Podia ser eu

Podia não ser eu

Podia amar-te enquanto a Primavera se saboreia com as cerejas dos teus lábios

Podia ser

Podia ser ontem

Ontem podia ser hoje

Hoje podia ser amar-te

Enquanto as cerejas dos teus lábios

São sanzalas de prata

No olhar pincelado de encarnado

Dos musseques da minha infância

 

Podia amar-te nas fases lunares

E não lunares

Das estrelas comestíveis e não comestíveis

Podia amar-te enquanto o vento me traz o que me levou

E me leva tudo aquilo que não quis ter

Podia amar-te dentro deste livro

Neste poema

Nesta cama

Podia amar-te e odiar-te enquanto a chuva se despede de mim

E eu

Dela

Depois….

Depois posso amar-te enquanto o vento me traz aquilo que me roubou

Daquilo

Muito pouco

Que me sobejou

 

 

 

Alijó, 20/08/2023

Francisco


 

sábado, 19 de agosto de 2023

Planície

Amo-te

Cabeça dura

Planície alentejana

Figura

Estátua granítica

Como o teu coração

Em tristes grãos de pedra

Montanha em despedida,

 

Amo-te

Cabeça dura

Noite perdida,

 

Amo-te

Invisível silêncio

Quando se ergue a manhã em teus olhos de mar…

E uma amêndoa poisa docemente nos teus lábios,

 

E dos teus lábios… acorda o luar,

Amo-te

Cabeça dura

Planície alentejana

Montanha

Noite perdida

Na noite dos embriões de papel

Em teus lábios de mel

Do mel da boca fugida…

 

 

Alijó, 19/08/2023

Francisco Luís Fontinha

(desenho de Francisco Luís Fontinha)