quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Olhos de mar

 Abraça-me na clandestinidade do Oceano

Teus braços em poesia

Teus lábios em feitiço

Abraça-me enquanto o pôr-do-sol se esconde nos teus olhos de mar

E este Oceano que nos deseja

Voa até aos lábios do luar,

Abraça-me na clandestinidade

Quando o teu cabelo se solta e brinca neste mar de insónia

Que tem o teu nome;

E não consegue esquecer as minhas mãos…

Destas mãos que te escrevem

Quando a manhã acorda no teu silêncio.

 

 

02/08/2023

Alijó

terça-feira, 1 de agosto de 2023

Flor em tua luz

 Flor em tua luz

Cintilante madrugada de viver

Sempre ausente

Contente

Que mente

O pobre do poeta,

 

Das manhãs de Inverno

Sempre ausente

O mar da tua mão

Em tua mão sempre ausente

Contente

Sem ninguém o poeta sem ninguém,

 

Flor em tua luz

Da luz miserável das árvores do meu jardim

Nuvem cinzenta

Das tempestades

Nas tempestades

Do inimigo luar,

 

Flor de luz

Em teu cabelo ausente

Em mim também ausente

Entre quatro paredes

Junto ao mar

Dos lábios de mel

Teus olhos de mar.

 

 

01/08/2023

Janela da liberdade ausentada

 Abraço-me ao sargaço da manhã

Na ânsia de encontrar no mar

Os peixes e os pássaros

E a melodia das árvores

Em silêncio

Que me olham

E se despedem de mim,

 

Abraço-me às pedras

Leves como penas

De cor inanimada

De cor desmaiada

Na sonolência do desejo

No desejo que a madrugada

 

Não regresse mais,

Abraço-me aos teus lábios

Onde brincam as palavras e os pequenos raios de sol

Abraço-me à tua mão

Enquanto um barco de sono

Poisa no teu olhar,

 

Do cansaço,

Que me abraço ao sargaço

Da manhã sem ninguém

Nesta casa desabitada

Desta casa amaldiçoada

E que não me pertence,

 

Abraço-me ao sargaço da manhã

Triste poema encalhado na sílaba dos teus lábios

Este pobre barco em delírio

Esquecido no rio

Abraço-me ao teu sorriso

Acreditando que a tua voz me procura

À janela da liberdade.

 

 

 

01/08/2023

Alijó

Francisco

segunda-feira, 31 de julho de 2023

Nortada

 Lateja a mingua luz da montanha

Abraça-se a mim o vento em nortada

Esta casa em aflição

Que arde

Grita

Lateja a míngua luz do teu olhar

Socalco que se esconde no doiro rio

 

Lateja a míngua luz da montanha

Às árvores de cartolina colorida

O rio em saudade

Que arde

Grita

No centro da cidade

 

Lateja a míngua luz em silêncio

No silêncio que te beija

Deste rio que corre nas tuas veias

Entre lágrimas de chuva

E de estrelas sem brilho

Que também elas latejam

Na cidade luz

Da míngua montanha

Que dorme em desespero

 

Lateja a míngua luz nos teus lábios

Que sofrem

Que procuram a liberdade

Da luz que lateja da minha nortada

Nesta triste e pobre cidade

Que traz o vento

E leva de ti o sofrimento

E a saudade.

 

 

 

31/07/2023

Alijó

Francisco

Embondeiro

 Morreu abraçado a um embondeiro;

Quando lhe perguntaram de que tinha morrido,

Respondeu,

Morri de saudade.

 

Da minha janela oiço o mar

Da minha janela vejo as flores do meu jardim

A abraçarem

O mar,

 

Da minha janela pincelo o mar

Nos teus olhos,

Também eles,

Filhos do mar,

 

Da minha janela sinto o mar

Dos teus lábios

Nos meus lábios

Nas palavras que te escrevo

Das palavras que não recebo

Desta janela

O mar em despedida

Na despedida de te amar.

 

Deste mar,

Desta janela cinzenta

Deste amar

Do mar da minha janela,

No mar

Deste mar que em ti inventa

Que em ti abraça

Desta janela

Os teus braços

Que se vestem de mar

E me beijam em segredo.

 

 

31/07/2023

domingo, 30 de julho de 2023

O teu cabelo em flor

 Flor em teu cabelo

Do vento servidão

Do teu cabelo em minha mão

No teu cabelo o perfume da manhã

 

No teu cabelo em lágrimas

No triste silêncio do luar

No teu cabelo em flor amar

Do mar do teu olhar

 

Flor em teu cabelo

Em palavras poesia

Que sorri a cada dia

A cada dia do teu cabelo

 

Em flor do teu cabelo em flor

No teu abraço

Em flor teu corpo cansaço

Teu corpo em flor

 

Do teu cabelo em flor

O meu beijo nos teus lábios de mel

Que escondo neste papel

Em flor do teu cabelo em flor

 

 

 

Alijó, 30/07/2023

sábado, 29 de julho de 2023

Espingarda de espuma

 Pego nesta espingarda de espuma

E disparo o beijo

De coisa nenhuma

Do desejo

A fina bruma

Desta pedra que te abraça

Nesta pedra que te alimenta

Enquanto o silêncio ainda é de graça

 

De graça

Coisa alguma

Ou nenhuma coisa qualquer

Se eu soubesse

Não o sabia

Que depois de tanta graça

Escondeu-se o dia

E masturbou-se a poesia

 

Da maré em pedaços

Na mãe comestível madrugada

Sem braços

Nos teus braços minha amada

 

Minha amada

De nada

Pego nesta espingarda de espuma

E disparo o beijo

De coisa nenhuma

Do desejo

A fina bruma

Quando o teu corpo em mim se afunda

 

 

 

29/07/2023